quarta-feira, 3 de março de 2010

RELENDO SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN (I)

Numa disciplina constante procuro a lei da liberdade medindo o equilíbrio dos meus passos.

Mas as coisas têm máscaras e véus com que me enganam, e quando eu um momento espantada me esqueço, a força perversa das coisas ata-me os braços e atira-me, prisioneira de ninguém, mas só de laços para o vazio horror das voltas do caminho.

* * *

Tudo é nu e as estátuas ressuscitam
Silêncio na manhã sem tempo
Extinção das vozes que se cruzam
E se perdem na agonia como o vento

Estátuas lisas, puras, cegas,
Estátuas de gestos involuntários
No ar sem movimento.

* * *

A raiz da paisagem foi cortada.
Tudo flutua ausente e dividido.
Tudo flutua sem nome e sem ruído.


(Do livro Poemas escolhidos, de Sophia de Mello Breyner Andresen. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário