Terry Eagleton é autor de um livro chamado Teoria da Literatura — Uma Introdução (São Paulo: Martins Fontes, 2006). Eu não concordo com muitas de suas conclusões, que vêm de uma análise marxista do trabalho literário, mas ele apresenta algumas questões que merecem a nossa reflexão. Por exemplo: “A dedução, feita a partir da definição da literatura como uma escrita altamente valorativa, de que ela não constitui uma entidade estável, resulta do fato de serem notoriamente variáveis os juízos de valor. (...) Até as razões que determinam a formação do critério de valioso podem se modificar. Isso, como disse, não significa necessariamente que venha a ser recusado o título de literatura a uma obra considerada menor: ela ainda pode ser chamada assim, no sentido de pertencer ao tipo de escrita geralmente considerada como de valor. Mas não significa que o chamado ‘cânone literário’, a ‘grande tradição’, inquestionada da ‘literatura nacional’, tenha de ser reconhecido como um construto, modelado por determinadas pessoas, por motivos particulares, e num determinado momento. Não existe uma obra ou uma tradição literária que seja valiosa em si, a despeito do que se tenha dito, ou se venha a dizer sobre isso. ‘Valor’ é um termo transitivo: significa tudo aquilo que é considerado como valioso por certas pessoas específicas, de acordo com critérios específicos e à luz de determinados objetivos. (...) O fato de sempre interpretarmos as obras literárias, até certo ponto, à luz de nossos próprios interesses — e o fato de, na verdade, sermos incapazes de, num certo sentido, interpretá-lo de outra maneira — poderia ser uma das razões pelas quais certas obras literárias parecem conservar seu valor através dos séculos.” Porém, continua Eagleton, “Diferentes períodos históricos construíram um Homero e um Shakespeare ‘diferentes’, de acordo com seus interesses e preocupações próprios. (...) E essa é uma das razões pelas quais o ato de classificar algo como literatura é extremamente instável.”
quinta-feira, 11 de março de 2010
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