O céu se esfarinha como as asas dos lençóis
Estamos destilando desde as docas do desejo
Um berro de alumínio Um leque de luas lapidado
Estamos conspirando contra cornucópias de colírios
E tomates de insulto em lepra flamejando
Nas horas de angústia contra os corredores
Desfiam-se os coices de outra alma morta
Tênis da primavera em janela de hospital
Aceno sanguíneo
Aceno sanguíneo
Ave de rapina
Cavalo Rosácea
Cavalo Rosácea
Pirata possesso
Ave-estilingue no brilho da manhã
Ave desavisada
Ave cansada
Vício vigor
Ave de lava
Com gládio de glande na gleba sem glosa
Os dias num carrinho de mão imantado de máscaras
Róseo resultado desta equação
Os dias, coração de acasos, culminando em lupa
Por sobre estes pomares de vísceras acesas
A casa porta e coronária
Rebocada
Pelo cuspe do colibri
OLHO AMADO
Agora, para manter-me no mundo será preciso assumir a sanha surda da soberba, o riso; escárnio assírio do palhaço sob a vertigem-guilhotina. Vejo os dias escorrerem pelo vão da janela, fechada, sobre a minha sugestão de alma, e as promessas assistem armários prenhes de pesadelo. Há sombras à espreita nos castelos que jazem latejando sobre os furúnculos da Terra-Mãe. Estou cansado, porém, somente persistindo na masturbação poderei alcançar tua imagem de atlas túrgido consubstanciando-me no sangue que tuas garras arrancaram do cetim que agasalha o planeta. Os arbustos, espiões do terremoto, confinam e confidenciam que há corvos coroando querubins enquanto a espada divina sai surtando numa busca galopante de gafanhotos rumo às têmporas do meu tempo.
(Confiram mais poemas de Fabrício Clemente na Zunái.)
O Fabrício eu já conhecia da Zunai. Ele faz um exame todo diferente do cotidiano - o que não significa que sua poesia seja banal, muito pelo contrário: ele tem um cinismo de quem quer que terceiros testem, com seus próprios sentidos, o mundo derredor.
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