TABACARIA DE HIGÉIA
trago a peste para dentro do corpo
a um só gole do vinho encefálico
traga o meu olho queimado
(queimado da peste que trago)
corredor de olhos amputados
trago-te
fumaça anestesiada de dias,
teu corpo de véus em luz mortiça
nas medulas de cortiça
dos alvéolos tragados
cordões umbilicais ressecados
na lua da boca das crianças
tragando o leite ausente, falho
tudo isto caminho e trago
para dentro do olho calvo
o metálico sangue no altar de plástico
abraça a mão de morfina do sol
injetando ouro inventado
sobre a ciranda de chagas
corro com a víscera tragada
de palhas, agulhas, mortalhas
máscara de nervo sádico,
trago-te
transplantado ícone de barro
um omulu esquartejado
no peito aberto
rasgo
pudera tragar o queimado
destes minúsculos moldes enjaulados
centauro envenenado
incendiaria de fantasmas
meus dois olhos extraviados
de vez
mas há balsâmico e visionário miasma
no aroma medicinal destes tragados ventres
de tudo do pouco tragam
do circo de horror doente
um parto de esperança, na esfumaçada tez
e me tragam, o olho sadio, antes de escurecer
TAXIDERMIA
com olhos de ocelot
pinça o gato escarlate
pela digital
sonha
plenilúnio
a espinha do felino
no éter da palma
exposta
no ossário enluarado
três miados rajam
a sala cirúrgica de memórias
(Poemas de Andréia Carvalho. Leiam mais no blog http://habitoescarlate.blogspot.com/)
quarta-feira, 31 de março de 2010
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