domingo, 21 de março de 2010
POEMAS DE ERNÂNI ROSAS
O SONHO-INTERIOR
O Sonho-Interior que renasceste
era o Poema dum Lírio do Deserto,
o vinho de Outras-Almas que bebeste
fatalizou o meu destino incerto...
Depois por Ti em Sombras de degredo
encerrei a minha alma desolada,
tive a tua visão crepusculada
na Beleza fugaz do meu segredo...
Perdeu-se-me ao Sol-Pôr teu rastro amado!
qual Cipreste, no Poente agonizado,
— na demência autunal duma Alameda...
Velaram-se Sudários teus Espelhos...
ante o cerrar do teu Olhar de seda,
que era um descer de lua em cedros velhos.
ALUCINA-TE A COR
Alucina-te a cor e a calmaria
desse oceano fulgente em que demoras
o olhar em sonho a germinar auroras...
entre a quimera e a líquida ardentia...
Pareces caminhar magnetizada,
sob um chover de estrelas e de rosas...
pelo florir da Luz quimerizada
surges de um mar de nuances misteriosas...
Como ilha d'aromas e de gases,
esparsa, no silêncio, que desperta...
o lírio de teu gesto, entre lilases!
Acenando do azul do meu assomo...
ou d'aérea visão que à luz deserta,
ao mágico poder que vem dum gnomo!...
SOMBRA IDÍLICA
I
Amplo mistério, abraça meu segredo,
floresce num delírio de inconsciente
e a alma, que envelheceu pelo degredo,
alheia-se a sonhar convalescente.
Para mim, tudo num Luar se estagnou,
como um adeus de cinza esmorecendo
em tarde que minh'alma se evolou...
num crepúsculo em seda amortecendo.
A luz é uma ante-sombra, pela tarde
na envolvência dum sonho de acordar...
embolada na voz que se oira e arde...
Ó Alma, que és sol pálido de Lua!
sou o idílico irmão do teu cismar...
que é meu rastro de branca Ofélia nua.
II
Ó Ninfas ao Luar da noite ainda
abraçando a ansiedade da minh'alma...
idílica e lunar, que em flor se alinda
no abismo d'água clara da voss'alma...
A hora trespassando antiguidade,
faz-se ausência, etereal melancolia...
canção d'aroma as formas da saudade
que passa lenta como a luz do dia...
Inquietação de tarde sibilina
acorda-te, ó Luar adolescente...
pela noite imperial da minha sina!
Adormeci... pela manhã amiga
despertei sombra vã de antigamente,
vi-me passar no Espelho d'hora antiga...
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Poeta simbolista catarinense (1886-1954) injustamente esquecido, assim como Maranhão Sobrinho e Pedro Kilkerry (este último mereceu um importante estudo crítico realizado por Augusto de Campos, a Re-Visão de Kilkerry, que reúne, além de ensaios, todos os poemas deixados pelo autor baiano). O Panorama do Movimento Simbolista Brasileiro, de Andrade Muricy, é leitura obrigatória para quem se interessa pelo tema. Os poemas de Ernâni Rosas publicados aqui foram extraídos do livro Poesias (Florianópolis: FCC Edições, 1989), publicado por ocasião do centenário de nascimento do poeta.
ResponderExcluir... e claro: a poesia brasileira não começou nem terminou com o Modernismo! É preciso, em minha opinião, haver uma revalorização de nosso Simbolismo, que possui autores reconhecidos internacionalmente, como Cruz e Sousa, e outros que merecem mais estudos, dentro e fora do Brasil, como Ernâni Rosas.
ResponderExcluirHá dois anos espantei-me com o Kilkerry (meu conterrâneo), que me foi apresentado por um professor. Desde então passei a me interessar pelo simblismo brasileiro, e tem sido susto a trás de susto!(rs)
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