sábado, 7 de janeiro de 2017

RETRATO X













"E todos os sentidos foram amputados"

 -- Luís Carlos Patraquim

entretanto a aranha entretece sua teia expele os fios de fiandeira gotas de seda convertidas em amarras nos entornos das paredes uma jornada pela noite manuscrita sem temor ao desengano à desmesura uma jornada na curvatura do ambíguo até a lenta corrosão de tudo enquanto buscamos entrestrelas entrevértebras uma saída da insanidade um escape desse alcácer de ínferos onde bolsonazis esfolam fêmeas e hordas urram de ira nas ruas turbas das trevas zumbis das telas de plasma espancam negros espancam travecos espancam putas viaturas expandindo luzes multiplicando mocambos e mortos expostos em vitrines para as festas tanáticas de hitler para as festas tanáticas de obama para as festas tanáticas de israel celebram falos celebram falos com pontas de agulha num desfile carnavalesco da morte caveira neanderthal essa marcha de insanos leitores do globo esses insanos leitores da veja esses insanos leitores da folha esses insanos leitores do völkischer beobachter há um céu de pureza eu sei em alguma dimensão da mente há alguma dimensão de pureza eu sei no sutra no tantra no veda mas aqui legiões de dobermans saúdam o coronel brilhante ustra descerebrados acumulam-se nas igrejas para louvarem o santo dólar o santo dízimo a santa estrela de david caveira neanderthal este espaço tétrico onde queimam gárgulas linhas retorcidas de um metálico esqueleto talvez um anjo extraterrestre chacinado por ter seis dedos em cada pé não há saída na viagem noturna do corcunda não há saída neste circo dark de lesmas liberais lobotomizadas pela mídia então eu caminho entre a alcateia com um maço de cigarros no bolso e dez moedas de cinco centavos e sigo e persigo uma rota que não existe uma rota rota uma trilha para fora dessa cova onde talvez quem sabe seja possível desescrever-me anular-me excluir-me para sempre dessa página.

2017

(Poema inédito de Claudio Daniel)