sexta-feira, 17 de maio de 2024

NARASIMHA

 



 









Ele

o misterioso

Senhor

azul-azeviche

com olhos

de lótus

e cabeça

de leão:

como seria

possível

descrevê-lo,

suas garras

caninos

e múltiplas mãos?

 

Ele

o misterioso

Senhor

com cabeça

de leão

-- dizem

os Vedas --

está dentro

de tudo

e fora de tudo 

no coração

da cobra

do elefante

da formiga

do devoto

do cão

e protege

toda a Criação.

 

Ele

o misterioso

Senhor

com cabeça

de leão

está sempre

longe

sempre perto

mais suave

do que a água

mais forte

do que o fogo

mais rápido

do que o vento.

 

Oh misterioso

Senhor

com cabeça

de leão:

mata o ser-

de-inferno-

e-pesadelo

o demo-danoso

do escarcéu!

 

(Hiranyakashipu

é dilacerado

pelo Senhor

com olhos de lótus,

que sai de dentro

de uma coluna

do palácio)

 

Foi de dia?

Foi de noite?

Nem de dia

nem de noite

nem dentro

nem fora

de casa

nem na terra

nem no céu

oh Senhor dos enigmas.

 

Ele

o misterioso

Senhor

azul-azeviche

com cabeça

de leão:

como seria

possível

descrevê-lo,

suas garras

caninos

e séquito de serpentes?

 

Oh Narasimha com olhos

de lótus e múltiplas mãos!

 

Om namo Bhagavate Narasimhaya!


Claudio Daniel, maio de 2024

sexta-feira, 10 de maio de 2024

RADHA

 



 






Seu rosto é como a lua.

Ela, a moça que tem brincos

em formato de peixe

faz Krishna dançar

em lilas de amor dançarino.

Seus olhos são iguais

a pássaros dançantes.

Ela, cujo rosto é como a lua.

Cega de amor, dança

vestida de carmesim

flor de lótus nos cabelos.

Ela, cujo rosto é como a lua

só deseja ter um milhão de olhos

sem pálpebras, para ver sem piscar

as infinitas faces de Seu Amado.

 

Claudio Daniel, 2024

quarta-feira, 8 de maio de 2024

PRIMEIRO POEMA DE 2024

 











BOSQUE DE RADHARANI

 

“flor com mil olhos de água”

Hilda Hilst

 

manhã de neblina

(cachoeira-branco-

azul-do-céu):

pés cruzam ponte de madeira

molhada pela chuva

até o campo

de pétalas

açafroadas.

Barro, pedras

galhos, formigas 

que carregam

farelos, folhas e flores.

No bosque de Radharani

-- moça com olhos de lótus --

tudo canta-encanta:

olhos-de-água

cantam-encantam

flores brancas

cantam-encantam

borboleta negro-azul

canta-encanta

até as pedras cobertas de musgo

cantam-encantam.

Nada existe além do aroma úmido

e dos ruídos do rio.

(Todos os rios oram por Ela

que se banha à meia-noite).

(Todos os rios oram por Ela

que dança com os pés

pintados de vermelho.)

Nada existe além  das árvores

de  troncos inclinados

pinhas queimadas

folhas e gravetos.

Porque tudo o que existe vem Dele,

vem Dela, vem do Ele-Ela

em mil danças de amor dançarino.

Pergunte às árvores.

Pergunte aos rios.

No bosque de Radharani

-- Aquela que encanta o encantador

o encantado encantável

Govinda-de-face-azul-lótus-negrume --

tudo é canto-encanto.


Claudio Daniel

(em Nova Gokula, 2024)