quarta-feira, 14 de setembro de 2016

CURSO DE PROSA CRIATIVA VIA INTERNET













A Oficina de Prosa Criativa é um curso teórico e prático de criação literária realizado à distância, via Skype, ministrado por Claudio Daniel, que tem como objetivo apresentar aos alunos conceitos sobre a prosa de ficção – conto, novela, romance – formulados por autores como Walter Benjamin, Auerbach, Todorov, Luckács, entre outros, propor exercícios de criação, estimular os alunos a desenvolverem os seus projetos literários pessoais, além de oferecer dicas sobre como publicar o primeiro livro e iniciar a carreira literária.

O curso é realizado nos seguintes horários: SEGUNDAS-FEIRAS, das 11h às 12h30. TERÇAS-FEIRAS, das 15h às 16h30, SEXTAS, das 14h às 15h30, e SÁBADOS, das 14h às 15h30. Cada aluno fazer quantas aulas por semana quiser, nesses horários e a mensalidade é de R$ 100,00. Quem já participa do Laboratório de Criação Poética terá 50% de desconto.

INÍCIO DO CURSO: 03 DE OUTUBRO DE 2016.


Quem estiver interessado no curso poderá enviar e-mail para o professor,claudio.dan@gmail.com.

Claudio Daniel é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP). Curador de Literatura e Poesia no Centro Cultural São Paulo entre 2010 e 2014. Colaborou, como colunista, na revista CULT. Editor da Zunái, Revista de Poesia e Debates. Publicou o livro de contos Romanceiro de Dona Virgo (2004) e os de poesia Sutra (1992), Yumê (1999), A sombra do leopardo (2001), Figuras metálicas (2005), Fera bifronte (2009), Letra negra (2010), Cores para cegos (2012), Cadernos bestiais (2015), Esqueletos do nunca (2015), Livro de orikis (2015) e Poemas lunares (2016). Como tradutor, publicou a antologia Jardim de camaleões, a poesia neobarroca na América Latina (2004), entre outros títulos. Em Portugal, publicou a antologia poética pessoal Escrito em Osso.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

ANTIMÍDIA V















Contra a entranha — 
multiplica o medo 
no borrão desfigurado;

unhas enegrecidas, 
maxilares arrancados,
miuçalha de carcaças.

Nenhuma língua enterrada
na fossa onde caranguejos
copulam com capulhos;

mistério ou talvez corrosão
de ácidos na decapagem
para a despossessão de tudo.

Retrátil, contra teu sangue,
a exaustão do que esfiapa
o símile do pensamento.

Esta pele, tua pele, nenhuma pele:
tudo é número e o número
é legião; meu nome é legião.

(Os poemas da série ANTIMÍDIA foram publicados em minha plaquete Cadernos bestiais, volume I. Bauru: Lumme Editor, 2015.)


ANTIMÍDIA IV













desentranha.
voz que vem da carne;
adensamento da voz
que recusa ser centaura.
desmultiplicada,
limítrofe da afasia.
no antilabirinto:
fugitiva do Limbo.
que ninguém escuta:
hermafrodita, hermafrodita.
onde queimam fetais:
é absurda, quimérica.
fala para si, solipsista,
como jargão
de ofícios militares;
soa tantálica, prometeica,
como se saísse
de uma boca costurada;
como ressurgido mugido
de um mamute siberiano.
como se não fosse nenhum
som humano.

ANTIMÍDIA III



Voici le temps des assassins

Rimbaud


Qual é a palavra mais terrível
para definir 
essa fragilidade,
essa corrosão?
Em qual aterro
acumulam-se,
entre estrumes,
as multifaces de Rávana?
Ferros oxidados,
oleosidade, madeiras,
feldspato; 
arame retorcido, 
betume,
cabeças secas
de cogumelos.
Nenhuma hipótese
de lucidez
nessa máquina
para a produção do medo;
nenhuma hipótese
além do imponderável
e sua rude sequência
de mutilações.
Jogos obscenos
como incendiar abrigos
— esta é a estranha
anatomia do precário,
cor difusa que atravessa
todas as letras da epiderme.
Pensamento-ciclope
no comando da sanha 
assassina: é assim 
que a sociedade de classes
decuplica o abismo em abismos,
com sua raiva infecta, 
raiva refugo, raiva corroída, 
que mata às cegas.

ANTIMÍDIA II














Fundo escuro 
esta rua de infernais 
fungos-de-papiro 
onde se espraiam
corpos deformados 
— Anúbis enfurecido 
ante o massacre. 
Tempo caveira 
desenterra
escaravelhos ao contrário 
onde abismais
esqueletos do nunca
fornicam trevas. 
Esta é a cidade esfíngica
onde passos trilhados
ao avesso da membrana.
Esta é a cidade esfíngica
onde a desrazão 
navega a insanidade.
Porco burguês.
Porca burguesa.
Chafurdam na mídia pré-histórica,
colecionando cifras.
Onde, nesse caos aritmético,
há lugar para o infinito?
(Tudo é número
nessa configuração
de lamentos:
até os fios de teu cabelo
estão contados,
e assim os anos de tua
breve trajetória.)
Mumifica a pele retesada, 
em sarcófagos de cólera:
recolhidas em vasos
(canopos), tuas vísceras,
sob um céu ferruginoso
e o estrondo mudo
de uma pistola de 9mm.
Onde, nesse caos aritmético,
há lugar para o infinito?
Tua face, deserto em miniatura.
Tua voz, imagem-terracota.
Tuas mãos, alfabeto do escarro.