sexta-feira, 19 de março de 2010

POEMAS INÉDITOS DE FLÁVIA ROCHA


TANKA
Dez mil folhas



I.

Nas noites quentes
adulterar as formas
e as texturas,
esquecer atrás de si
as reminiscências.


II.

Ir para longe
dos quartos sob a lua,
e se extraviar
entre as coisas leves
e sem indiferença.


III.

As dez mil folhas
espalhadas pelo chão,
nunca escondem
passos que se afastam
da estrada possível.


GHAZAL

Expressão impassível no rosto sem nome:
a memória, sem itinerário, falseia um nome.

Pretensão é querer descobrir o homem
obscuro e sincero por trás do seu nome.

Ele se concilia com tudo que consome,
e descortina a primeira camada do nome.

As marcas agora visíveis comovem:
não basta quebrar mitos em Seu nome.

O divino devora a matéria da fome
e não fixa a vibração sutil do nome.

A fome persiste sobre as camadas e move
no rosto um sinal de luta por um nome.

Mais fundo, pouco resta que console:
a entrega é falha sem a alquimia do nome.

O tempo passa sem deixar que se molde
na memória uma imagem perfeita do nome.

Faço minha a procura convicta do homem
por um rosto seu – empresto-lhe meu nome.

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