domingo, 14 de março de 2010

NOVOS POETAS (I): ARIANE ALVES DOS SANTOS

SEM TÍTULO

Meu único desejo:
Adormecer nesse retrato

Não ser mais as cinzas
que encerram
a ressonância dos pulmões

Seus braços convulsos estendidos sobre a mesa
contém o incêndio de cada minuto
As facas se voltam contra o sol
Anulando os meandros da face

O corpo
se tornará abrigo dos cinco elementos
Os vestidos
se diluirão nas nuvens
A chuva
será tua transpiração

O peito se retorce em tua única afirmação:
Falar
é entregar as armas ao assassino

Sem saber que o silêncio parte minhas vértebras
ao meio.


SEM TÍTULO

O pulso torna-se metal

Sinto
as horas pesadas como teu braço
dependurado na cama
Teus olhos desfeitos em ar

Uma locomotiva febril percorre minha espinha
Mastigo os anéis do dia
E uma ferida floresce entre os dedos.

Sou um naufrago enclausurado num seixo
roçando a palidez contra os joelhos
Incendiando as artérias do universo

Arando as cinzas de uma ave esfacelada.


SEM TÍTULO

Interrogo a farpa
cravada na memória
ao cristal que aponta
para os destroços

Um eco se perde num olhar desesperado

O moinho se despedaça no mar das horas
Perco minha idade nas estacas do vento

Vi um contorno curvado
Afogando as têmporas na saliva
Arranhando a angústia nas paredes

As cortinas do tempo cortaram o rosto

Os mortos bebem o leite vertido
no ventre

A água do sonho se perde numa caverna de promessas

E a alma se esconde no mármore.

3 comentários:

  1. Mis saludos desde Santiago de Chile. siempre un agrado pasar a leer-mirar a su espacio caro poeta.

    abrazo fraterno,

    Leo Lobos

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  2. Caro Leo, agradeço pela visita! Tenho pensado muito em meus amigos chilenos, nesses dias tão difíceis... paz, poesia e força, meu amigo!

    Abraço,

    CD

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  3. Enquanto a poeta vai buscando a metamorfose do que ela toca, vai nos benzendo com uma poesia de aparência metálica, mas de cerne suave.

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