SEM TÍTULO
Meu único desejo:
Adormecer nesse retrato
Não ser mais as cinzas
que encerram
a ressonância dos pulmões
Seus braços convulsos estendidos sobre a mesa
contém o incêndio de cada minuto
As facas se voltam contra o sol
Anulando os meandros da face
O corpo
se tornará abrigo dos cinco elementos
Os vestidos
se diluirão nas nuvens
A chuva
será tua transpiração
O peito se retorce em tua única afirmação:
Falar
é entregar as armas ao assassino
Sem saber que o silêncio parte minhas vértebras
ao meio.
SEM TÍTULO
O pulso torna-se metal
Sinto
as horas pesadas como teu braço
dependurado na cama
Teus olhos desfeitos em ar
Uma locomotiva febril percorre minha espinha
Mastigo os anéis do dia
E uma ferida floresce entre os dedos.
Sou um naufrago enclausurado num seixo
roçando a palidez contra os joelhos
Incendiando as artérias do universo
Arando as cinzas de uma ave esfacelada.
SEM TÍTULO
Interrogo a farpa
cravada na memória
ao cristal que aponta
para os destroços
Um eco se perde num olhar desesperado
O moinho se despedaça no mar das horas
Perco minha idade nas estacas do vento
Vi um contorno curvado
Afogando as têmporas na saliva
Arranhando a angústia nas paredes
As cortinas do tempo cortaram o rosto
Os mortos bebem o leite vertido
no ventre
A água do sonho se perde numa caverna de promessas
E a alma se esconde no mármore.
domingo, 14 de março de 2010
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Mis saludos desde Santiago de Chile. siempre un agrado pasar a leer-mirar a su espacio caro poeta.
ResponderExcluirabrazo fraterno,
Leo Lobos
Caro Leo, agradeço pela visita! Tenho pensado muito em meus amigos chilenos, nesses dias tão difíceis... paz, poesia e força, meu amigo!
ResponderExcluirAbraço,
CD
Enquanto a poeta vai buscando a metamorfose do que ela toca, vai nos benzendo com uma poesia de aparência metálica, mas de cerne suave.
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