domingo, 7 de fevereiro de 2010

POEMAS DE HUIDOBRO

TREMOR DE CÉU
(fragmentos)

Vestida de branco, Isolda vinha como uma nuvem.

Então a lua começou a cair envolta em chamas. E nas praias dançava um reflexo de fogo.

Os espectros saem um a um de cada onda que se levanta. Vocês que estão aí escondidos, chegou a hora de tremer ante a voracidade da morte.

O sol poente faz uma auréola sobre a cabeça do último náufrago que flutua à deriva sem ouvir mais os cantos da margem.

Os lobos passeiam com os olhos brilhantes entre os ramos da noite, enlaçados estreitamente e chorando sem causa precisa.

O homem aquele, maior que os outros, abre a boca no meio do jardim e começa a tragar vaga-lumes durante horas inteiras.

As árvores estão retorcidas por causa de uma dor estranha. E uma quantidade de meteoros que caem do céu formam espirais em nossa atmosfera como se fossem pedras na água.

O fumo espesso sai de todos os lados. Agora só brilham os olhos dos lobos e o homem cheio de vaga-lumes. Todo o resto é penumbra.

A montanha abre suas portas e o cego entra com os braços estendidos.

Há uma árvore, uma grossa árvore que se retorce no fogo do crepúsculo.

Acima, Deus está embalando um planeta recém-nascido.

Caem estrelas sobre a terra. Uma após outra vão caindo centenas de auréolas sobre a terra, algumas sobre certas cabeças... E nada mais?

Uma ilha de palmeiras surge do mar para os noivos que passeiam enlaçados.

Algum dia um deles encontrará a cabeça que havia perdido, imóvel no mesmo lugar em que a perdera.

Quando? Onde? Qual deles?

(. . .)

Todas essas mulheres são árvores ou pedras de repouso no caminho, talvez desnecessárias.

Garrafas de água ou tonéis de embriaguez, geralmente sem luz própria. Obedecem como as catedrais a um princípio musical. Cada acorde tem seu correspondente e tudo consiste em saber tocar o ponto do eco que há de responder. É fácil fazer tecidos de sons e construir um verdadeiro teto ou magníficas cúpulas para os dias de chuva.

Se o destino permite, podemos abrigar-nos por um tempo e contar os dedos daquela que nos estende os braços.

Logo o fantasma nos obrigará a seguir a marcha. Saltaremos por cima dos seios palpitantes que são suas cúpulas porque ela estendida de costas imita um templo. Melhor dizendo, são os templos que imitam a elas, com suas torres como seios, sua cúpula central como cabeça e sua porta como querendo imitar o sexo por onde se entra em busca da vida que pulsa no ventre e por onde deve sair depois a mesma vida.

Porém, nós não temos de aceitar semelhante imitação nem podemos crer em tal vida. Nesta vida que sai com os olhos vendados e vai estrelando-se em todas as árvores da paisagem. Só acreditaremos nas flores que são berços de gigantes, embora saibamos que dentro de cada casulo dorme um duende.

Tradução: Claudio Daniel

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