domingo, 11 de outubro de 2009

POETAS DE MACAU (II)

OLHANDO A LUA, NA MINHA MONTANHA

Se um dia um búfalo subir até a lua
Será decerto o meu pequeno búfalo
E quando ele voar, sem dúvida será
O dia do Festival do Meio do Outono
Tal como eu o recordo claramente
Alguém que deixa a montanha e olha para trás
Há um salgueiro imenso que lhe acena
No alto do salgueiro está o pequeno búfalo do pastor
É sempre a meio do Outono que ele sobe para a lua
Em cada Outono alguém estará partindo para longe
Atravessando oito mil milhas em trinta anos
Quem sabe, se quando vejo o luar do topo da montanha
No alto do salgueiro, lá está o búfalo estelar
O mesmo de quando eu era menino

PINTURA SUSPENSA

Onde, o lado indiscernível
Da montanha sagrada?
Ilhas de sonho

Na esfera azul
Nuvens e névoa
Descem, lentíssimas
Até sumir
Uma
A
Uma
No seio do lótus branco
Lótus branco
Lótus branco
Lótus branco
Lótus branco

(Dois poemas de Gao Ge, traduzidos por Fernanda Dias)

3 comentários:

  1. Poemas extraídos do livro Gao Ge: Poemas, organizado e traduzido por Fernanda Dias. Instituto Português do Oriente, coleção Escritas de Macau, 2007.

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  2. Gosto especialmente do segundo.

    Onde, o lado indiscernível
    da montanha sagrada?

    Pelo que sugere me lembra um poema do Herberto Helder no seu Ou o poema contínuo.

    O poema

    IV

    Nesta laranja encontro aquele repouso frio
    e intenso que conheço
    como um dom impossuído.
    Do ouro terá a luz interior, terá
    a graça desconhecida daquilo que mal pousa
    na mesa, no mundo.

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  3. Bem observado, Marceli.

    Beso,

    CD

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