sábado, 17 de outubro de 2009

DIÁRIO DE UM LEITOR

Caros, tenho de ler vinte obras de literatura portuguesa até o final do ano, para prestar o exame de ingresso no doutorado na USP. Desde os cancioneiros dos trovadores, Os Lusíadas de Camões, Gil Vicente, Padre Vieira, até Herberto Helder e Saramago. Por um lado, esse é um “castigo” quase tão terrível quanto ficar preso numa cela com Angelina Jolie durante uma semana. Por outro lado, tira o meu tempo para outras leituras. O pior de tudo é que estou recebendo muita coisa boa, enviada pelos amigos: Sérgio Medeiros enviou-me o seu livro de poemas mais recente, Sexo Vegetal, um dos trabalhos mais originais de nossa poesia mais recente; Jacineide Travassos, que encontrei em Recife, entregou-me o seu belo Livro dos Ventos; os mexicanos Rodolfo Mata e Ernesto Lumbreras, que encontrei num café em Sampa, presentearam-me com Temporal (livro de Rodolfo) e Caballos en praderas magentas (livro de Ernesto); o português Jorge Melícias enviou-me, há tempos, uma reunião de sua obra poética, intitulada Disrupção; ainda de Portugal, recebi vários títulos de João Rasteiro e Casimiro de Brito; e a Mônica Simas deu-me várias preciosidades, como os poemas de Gao Ge traduzidos por Fernanda Dias (ela própria uma das poetas mais notáveis de Macau, autora de livros como Chá Verde) e um importante livro de sua autoria, Margem do destino: Macau e a literatura em língua portuguesa. Recebi vários outros livros, que não citarei aqui (correndo o risco da injustiça), pois a lista seria longa. Claro que será impossível para mim ler e comentar tudo; só Os Lusíadas já exigem a minha atenção integral há dois meses, uma vez que é leitura que exige consulta constante a dicionários, enciclopédias e obras de referência, para o entendimento mínimo das centenas de referências e citações feitas no poema. Porém, aos poucos, irei comentando na Pele de Lontra algumas coisas interessantes que tenho lido, rápida e esparsamente, enquanto almoço ou tomo o café (hábito incorporado há alguns anos, comer lendo poesia, ou será ler comendo poesia?). Por fim: soube hoje, pela amiga Virna Teixeira, que perdemos 90% da obra de Hélio Oiticica num incêndio ocorrido no Rio de Janeiro, incluindo bólides, parangolés, livros, quadros, filmes e outros documentos e objetos produzidos pelo artista. É um dia de luto para a cultura brasileira (vale a pena perguntar: o que aconteria na França se um incêndio destruísse 90% da obra de Marcel Duchamp, por exemplo?). Confiram um belo poema de protesto publicado por Marcelo Sahea em seu blog, na lista de links ao lado.

Besos,

CD

6 comentários:

  1. Taí o ruim... Não é que você queira tirar algum minuto os olhos da Jolie (quem quereria?), mas tem outras que são também tão interessantes! Uma pena pedir que se retirem...

    "Por fim: soube hoje, pela amiga Virna Teixeira, que perdemos 90% da obra de Hélio Oiticica...". Caralho, 90% é muita, muita coisa... De quanto nós ficamos privados!

    Fiquei curiosa quanto ao Sexo Vegetal, do Sérgio Medeiros... Coloca uma hora algum dele aqui.

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  2. Eis uma das vantagens da literatura frente às artes plásticas: ela se perpetua nas cópias com a mesma intensidade do original (muito embora uma primeira edição adquira um caráter aurático). É triste perder um acervo que conta a nossa história; as cópias (se tivermos todas) aludem apenas à materialidade dos originais.

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  3. ... há há há há! a brincadeira foi justamente neste sentido: ler Camões (ou dividir uma cela com Angelina Jolie) pode ser ótimo, mas nos priva de outras leituras ou convivências... em meu caso específico, deixo de ler poesia contemporânea e outros textos que me interessam, para me preparar bem para o exame... vou postar algo do livro do Sérgio Medeiros aqui, assim que possível. E perder 90% da obra de um artista como Hélio Oiticica é realmente um crime cultural: as obras deveriam estar seguras num museu, e não na casa do irmão dele, uma total falta de responsabilidade... que absurdo... beso,

    Claudio

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  4. Susanna, é verdade, este é o poder das palavras, que prescindem de um suporte material único para se perpetuarem... o livro pode ter várias edições, em diferentes formatos, idiomas, e até ser adaptado a suportes eletrônicos como o CD... espero que haja fotografias precisas que permitam a reconstrução de parte do acervo de Hélio Oiticica... aí, claro, teremos a seguinte discussão conceital: uma instalação de Oiticica recriada a partir de fotos pode ser considerada obra de Oiticica? Como ficará o conceito de obra "original" numa situação dessas? Beso do

    Claudio

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  5. Anônimo21.10.09

    Oi Claudio, BOA AVENTURA! Eu estou trabalhando com Os Lusíadas, na Graduação, e está sendo fascinante ... Se precisar de algo ... Não tem a Jolie, mas tem a Vênus, a Maria para os mais recatados ...
    bj,
    Monica

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  6. ... Mônica, me avise quando a nau sairá para o mar desconhecido, e reserve a minha vaga, tenho interesse na expedição, sim. Beso,

    CD

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