caminha pelo sangue, na pele
rugosa do amanhecer,
a tão pequena tosse do outro
lado das palavras: como se
se dividissem os sentidos,
a visão, o tato animal,
o veneno riscado, arrancado
às paredes da luz
e sobre o flanco abrisse
uma doença uma razão
meticulosa deexistir,
um sofrimento a cada
instante mais veloz, mais ágil
uma secreta ausência perdoada
* * *
não são as luzes nem os animais
o esplendor
nem as mudas palavras onde a voz
difusa as separa
caminharemos junto à água, até
ao recordar dos promontórios
ao olhar
a invenção do inverno
e recolhidos
no brusco ardor dos
anos breves
ouvindo cintilar
a frívola passagem
dos sinais
(Do livro Poemas. Lisboa, Assírio & Alvim, 1996.)
sábado, 24 de outubro de 2009
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Antônio Franco Alexandre, poeta português, nasceu em 1944, em Viseu. É professor de Filosofia na Universidade de Lisboa. Os poemas publicados aqui são do livro A Pequena Face (1983), incluído na reunião de sua obra, intitulada Poemas, publicada pela Assírio & Alvim. Devo ao amigo Luís Serguilha o contato com a obra desse autor raro e singular.
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