quarta-feira, 8 de setembro de 2010

UMA ENTREVISTA PARA WEBLIVROS

CAMALEÕES À SOLTA

Claudio Daniel é poeta, jornalista e tradutor. Autor dos livros de poesia Sutra, Yumê e A sombra do leopardo. Organizou, com Frederico Barbosa, a importante antologia Na virada do século, com poetas brasileiros que estrearam a partir dos anos 90, alguns deles inéditos em livro. Foi um dos ganhadores do prêmio literário da revista CULT, na categoria poesia. Trata-se de um autor ocupado com os aspectos lúdicos e plásticos da linguagem, cuja obra está densamente impregnada por elementos da filosofia e da cultura orientais. Como tradutor, tem feito um trabalho intenso de recriação de poetas latino-americanos, como José Kozer, Eduardo Milán, Víctor Sosa, León Félix Batista, entre outros. Em 2004, Claudio Daniel lançou dois livros: um de ficção, Romanceiro de Dona Virgo e a antologia neobarroca Jardim de camaleões, com 24 poetas. É sobre esses títulos, sua visão de literatura e trajetória poética que Claudio Daniel fala com exclusividade para Weblivros.

Reynaldo Damazio

WEBLIVROS: Você publicou o seu primeiro livro de contos, o Romanceiro de Dona Virgo, pela editora Lamparina, em 2004. Em que medida essa obra dá continuidade a sua produção poética? Trata-se de uma ruptura ou de uma nova faceta em sua trajetória?

CLAUDIO DANIEL: O Romanceiro de Dona Virgo é uma reunião de seis narrativas breves, que parodiam estilos e temas de diferentes períodos da literatura de língua portuguesa, desde os cancioneiros medievais até o simbolismo. A escritura faz um deliberado pastiche, sem qualquer compromisso com o realismo, a verossimilhança ou a historicidade, como bem observou Maria Esther Maciel, no posfácio da obra. Ao contrário: há uma deliberada mistura de fatos e personagens reais e imaginários, de códigos lingüísticos e culturais, e mesmo de idiomas (há citações em sânscrito, chinês, latim, hebraico e galego), numa miscelânea barroca. Como bom ladrão e falsário, inseri nas histórias, em itálico, textos retirados de Camões, Claudio Manuel da Costa, Gregório de Matos, Cruz e Sousa e outros poetas, que funcionam como vozes dramáticas, interagindo com as narrativas. Estes autores, aliás, são também personagens, cujas biografias são reinventadas, com elementos da novela policial, da aventura picaresca e do discurso metafísico, entre outros gêneros. É assim uma espécie de sátira da história da literatura, mas também o discurso amoroso de alguém obcecado por esse inútil ofício das palavras. Escrevi o Romanceiro de Dona Virgo ao longo de cinco anos, com o mesmo rigor que exijo de meus poemas; nunca quis apenas contar histórias, como um fabulador, fazendo do texto um elemento passivo para a evolução ficcional. A prosa que me interessa é aquela que se deixa contaminar pela função poética, pela metalinguagem, como as Galáxias de Haroldo de Campos, o Catatau de Leminski ou o Mar Paraguayo de Wilson Bueno. A busca de imagens, de sonoridades, da arquitetura estrutural do texto, essa é a minha Penélope. Embora este livro tenha enredos mais ou menos lineares, as tramas funcionam como melodias numa peça de concerto, onde o que importa de fato são a harmonia e o ritmo, ou seja, uma certa abstração ou rarefação dos temas. Creio que o Romanceiro de Dona Virgo poderia ser considerado também como um poema longo em prosa, dividido em seis cantos ou seções que interagem, compondo uma unidade. Neste sentido, não há uma ruptura com o meu trabalho anterior, mas uma ampliação da função poética num outro modelo de composição (assim como a ópera amplia as possibilidades da canção lírica, com o emprego de um número maior de recursos e instrumentos musicais). Se em vez da prosa ficcional eu tivesse escrito uma peça de teatro, creio que seria também poesia, embora declamada no palco por atores, com todo o mise-en-scène da forma dramática.

WB: Você também publicou em 2004, pela editora Iluminuras, a antologia neobarroca Jardim de camaleões. Gostaria que você explicasse o conceito de neobarroco que norteou a seleção dos textos e falasse sobre a importância desta vertente para a poesia contemporânea.

CD: "A escritura como tatuagem: inscrever sentenças na página, adereços rituais de cerimônia mágica. Sentir a carnadura das palavras, em gozo bacante; ceder a seus jogos e permutações de cores e linhas como a pele do tigre ou a loucura de um deus. Espaço entre som e luz, sentido e mistério, o barroco faz da arquitetura verbal uma forma de delírio visionário. (...) A saturação de signos, na prosódia barroca, opera a ruptura com os próprios limites do compreensível; esse tumulto intencional, dentro da função poética, produz verdadeiros labirintos verbais, jardins de espelhos deformados." Este parágrafo abre meu ensaio A escritura como tatuagem, que é a introdução da antologia Jardim de Camaleões, A Poesia Neobarroca na América Latina. O livro é uma coletânea de 24 autores de diferentes pontos do continente, do Uruguai a Cuba, do Chile ao México, da Argentina ao Peru, do Brasil à República Dominicana, com traduções minhas, de Glauco Mattoso e de Luiz Roberto Guedes. Comparecem aqui os fundadores históricos desse "artesanato furioso", como Lezama Lima e Severo Sarduy, e ainda autores mais jovens, que estão na faixa dos 40 anos, como Victor Sosa e Reynaldo Jiménez. Por ser uma abordagem extensiva dessa estética camaleônica, situada à margem dos modelos canonizados (e domesticados) do establishment universitário, incluí no livro textos teóricos de vários autores, desde o prefácio, assinado por Haroldo de Campos, até o posfácio, escrito por Roberto Echavarren (além de um ensaio longo do cubano José Kozer, e da "orelha" de Horácio Costa). Podemos considerar o neobarroco uma forma de escritura que explora todos os recursos da linguagem, até o máximo grau. Uma arte mestiça, que nasce do cruzamento de referências indígenas, européias, africanas, orientais, apaixonada pelo excessivo, multiforme, transbordante. É uma antropofagia omnívora, que inclui em seu cardápio ecos de textos místicos medievais e até de cantos rituais xamânicos e formas pouco assimiladas da vanguarda, sem esquecer dos elementos "coprofágicos" da cultura de massa, como as histórias em quadrinhos. Essa mescla não busca a unificação, mas a ampliação do ruído, da dissonância, num coral rutilante de vozes. Essa confusão intencional, labirinto mandálico, de certo modo mimetiza a nossa época, regida pelo trânsito caótico, simultâneo, de signos culturais. No campo puramente verbal, o neobarroco distancia-se do coloquialismo e das formas já esgotadas da poesia moderna (de Neruda e Parra, por exemplo), e retoma o experimentalismo de autores como Vallejo ou Girondo. Sua sintaxe é tortuosa, não linear; há uma luxúria semântica, metafórica, com toda sorte de construções inusitadas. Para os poetas brasileiros contemporâneos, o diálogo com o neobarroco significa conhecer uma pesquisa poética radical, distinta da visualidade da Poesia Concreta e do minimalismo da Language Poetry norte-americana. É uma outra praia, um outro campo fértil para a leitura e a investigação, que não deve levar à cópia discipular, epigonal, mas a uma reflexão crítica sobre os rumos da poesia recente em nosso país.
WB: Percebe-se em seu trabalho uma forte ligação com a poesia latino-americana, de teor marcadamente imagético. Essa tendência se opõe a uma linha mais objetiva, herdeira do modernismo, bastante difundida na literatura brasileira, em prosa e verso. Com que tradições literárias a sua poesia dialoga?

CD: Poesia, para mim, sempre quis dizer metáfora, símbolo, imagens sonoras, "construção precisa do impreciso". Sei que tomei a decisão de ser poeta após ler o Corvo, de Edgar Allan Poe, e As Flores do Mal, de Baudelaire. Fiquei fascinado com a música estranha, nervosa, desses poetas; com as visões de uma geografia íntima, onírica, criada pelo "poder encantatório das palavras". Depois, fui descobrindo outros autores, como Blake, Rimbaud, Trakl, Celan, videntes que não separavam vida e linguagem, razão e emoção, conhecimento e imaginário, nem se conformavam a um retrato ingênuo e simplista do cotidiano. A poesia, para mim, sempre foi sinestesia, teurgia, palavras recitadas como mantras ou cantos sagrados, cerimoniais. Esse caráter ritual da poesia, no entanto, nada tem de arcaico; ao contrário, é estimulante para a pesquisa de combinações imprevistas, inusuais, de sons e imagens, numa busca incessante de outras construções, outros caleidoscópios, ecos especulares da ânsia por uma nova ordem das coisas. Nunca me interessei por poetas que se limitam a pintar cenários banais, previsíveis, da vida ordinária, numa representação superficial da realidade. No ensaio que escrevi sobre o uruguaio Victor Sosa, chamado Arte de enlouquecer cristais (já publicado no site Weblivros), digo o seguinte: "Nada é tão linear, tão lógico e previsível como a crônica de jornal. A Natureza, que criou o lagarto e a vulva, os cristais e o caramujo, a lepra e a madrepérola, é uma deusa bizarra e caprichosa; e o poeta, seu sacerdote, por dever de ofício e devoção à deidade, não pode fazer por menos. Limitar-se à contemplação rotineira das coisas, longe de ser uma postura realista, conduz a um afastamento do ‘real’, esse ente metafísico que não se distingue, em seu significado mais profundo, da mente e do universo". Poesia, para mim, é a busca incessante de novas formas e sentidos, de novas visões e modelos de mundo (ou, como diria o chileno Vicente Huidobro, de uma nova fauna e flora). Quanto ao modernismo, vale a pena dizer que não foi uma única vertente, mas várias: podemos citar, por exemplo, a corrente antropofágica de Oswald de Andrade, Pagu, Raul Bopp e Tarsila (para mim, a mais interessante, pela radicalidade da invenção formal); a linhagem órfica de Jorge de Lima e Murilo Mendes (que ainda merece um estudo em profundidade, inclusive por sua repercussão em poetas posteriores, como Mário Faustino); a vereda coloquial-cotidiana de Bandeira e Drummond, hegemônica na universidade e na imprensa, talvez por ser a de mais fácil compreensão, e por inspirar hoje vários poetas medíocres, mas de grande influência na mídia; e a linha construtivista, que vai de João Cabral de Melo Neto, nos anos 40, até a Poesia Concreta, nas décadas de 50 e 60. Claro que há outras linhas nascidas da Semana de Arte Moderna de 1922, citei aqui apenas aquelas que acho fundamentais. De todos esses nomes, foram importantes em minha formação literária, sem dúvida, Oswald, Murilo, Cabral e os concretos, com quem aprendi a arquitetura do poema, a pensar em cada palavra, linha e conjunto de linhas de maneira orgânica, onde nenhum elemento está a mais ou a menos no conjunto. A leitura de livros como A Arte no Horizonte do Provável, Verso Reverso Controverso e o Panaroma do Finnegans Wake foi essencial para mim, assim como as traduções que os irmãos Campos fizeram de Ezra Pound, Mallarmé, Cummings e Maiakovski. Há um ensaio de Haroldo, chamado Uma Arquitextura do Barroco, incluído no livro A Operação do Texto, que acho especialmente importante para a compreensão do barroco para além das limitações geográficas e temporais; o titã concreto compreendeu essa estética luciferina em termos trans-históricos, descobrindo a luxúria semântica gongórica em autores de Alexandria, da China da Dinastia T’ang, do Brasil Colônia e em outras dimensões do espaço-tempo, antecipando muitas formulações teóricas de autores latino-americanos, e ao mesmo tempo iluminando a compreensão de poetas como Lezama Lima e Severo Sarduy. Quando descobri a poesia cubana, aliás, e em especial a de José Kozer, que traduzi (Geometria da Água e Outros Poemas, Fundação Memorial da América Latina, 2000), foi uma redescoberta de tudo aquilo que eu já sentia e pensava a respeito da matéria poética, desde a leitura dos poemas de Baudelaire, aos 13 anos de idade, na biblioteca de meu pai, onde me trancava para fumar cachimbo escondido. Para concluir essa resposta, gostaria de acrescentar que a minha poesia se alimenta de diversas fontes, e não apenas literárias, mas também da ópera e da música de concerto, das pinturas e mandalas tibetanas, da leitura de místicos orientais e do cinema. O resultado do que fiz até agora é a antologia Figuras Metálicas (Travessia Poética, 1983-2003), que publicarei em 2005 pela coleção Signos, da Perspectiva, com prólogo de João Alexandre Barbosa.

WB: A antologia Na virada do século, que você organizou com o também poeta Frederico Barbosa, suscitou críticas quanto à classificação de "poesia de invenção" para os trabalhos reunidos. A mesma crítica tem sido feita à antologia de contos que Nelson de Oliveira realizou, sob a rubrica da "transgressão". Quais os critérios utilizados para definir "invenção" e como tais critérios se adaptam a poéticas tão diversas como as de Donizete Galvão e Arnaldo Antunes, ou de Anelito de Oliveira e Josely Vianna Baptista?

CD: Quando Frederico Barbosa e eu resolvemos organizar a antologia Na Virada do Século, partimos de algumas pistas iniciais: queríamos mostrar o que havia de mais criativo na poesia brasileira mais recente, produzida nos anos 80 e 90, e não apenas no habitual eixo Sul-Sudeste, mas também em outras regiões do país, para dar uma abrangência nacional à mostra. Porém, não concordamos, de maneira nenhuma, com pressupostos da teoria dos gêneros. Não incluímos nenhum autor apenas por ser negro, judeu, mulher ou homossexual; julgamos textos e processos criativos, não características biológicas ou pessoais. Houve um critério rigoroso, com certeza, na avaliação dos trabalhos, que privilegiou poetas comprometidos com a experimentação estética, ainda que não filiados a uma única concepção ou escola. Há abrangência e multiplicidade em nossas escolhas, que incluem autores que partiram da Poesia Concreta, do Neobarroco, da Language Poetry e de outras vertentes estéticas, e inclusive autores independentes, como Donizete Galvão, que tem um trabalho de alta qualidade e que por vezes se aproxima da vanguarda, pela capacidade de surpresa e concisão ("Na pedra, / ele espreita: / peixe, pássaro, lua. / Seu olho-flecha / nunca fere a presa"). Nisso, aliás, inspirou-nos a coletânea Poesia Russa Moderna, que inclui alguns poetas distantes do cubo-futurismo, mas que alcançaram resultados notáveis, como Ana Akhmátova. Excluímos, sim, autores ligados a tendências conservadoras, conformistas, que estão fora de nosso campo de interesse.

Reunimos, Fred e eu, 46 poetas, e com certeza o leque poderia ser ainda mais amplo, já que muitos autores nós só viemos a conhecer depois, como Antonio Mariano, Eduardo Jorge, Virna Teixeira e Delmo Montenegro; de todo modo, essa reunião poética é suficiente para demonstrar a falácia de certas sibilas do apocalipse, que não se cansam de repetir o refrão de que não há nada de novo na poesia atual. Certamente, muitos não gostaram da escolha dos nomes, dizendo que faltaram este ou aquele, mas não é possível agradar a gregos e baianos — felizmente. Nossa antologia nunca quis ser imparcial, neutra, mas engajada e comprometida, e com vocação para interferir no cenário literário nacional. Quanto ao conceito de invenção, que tem causado tanta polêmica, certamente não usamos a definição de Ezra Pound, exposta no ABC da Literatura. Essa palavra é usada desde a Idade Média (no mínimo). Em nosso caso, usamos a palavra "invenção" para designar função poética (Jakobson), metalinguagem, o arranjo inusitado entre as palavras, a busca de novos processos e resultados, enfim, a poesia-arte, que nada tem a ver com marketing, relações-públicas ou jogos de influência com a universidade e a mídia.

WB: Como tem sido a experiência editorial do site Zunái, dedicado à poesia? A Internet ajuda na difusão da literatura?

CD: Zunái é uma revista literária criada especialmente para circular na Internet. As vantagens são inúmeras: não há custos com papel, gráfica, distribuição, e todos os leitores interessados podem acessar a revista, em qualquer ponto do planeta. Também há facilidades para sua atualização periódica, sem descartar as matérias publicadas nos números anteriores: assim, funciona como um arquivo eletrônico, que pode auxiliar a pesquisa de quem necessitar de informações disponíveis na revista. No link de Ensaios, por exemplo, há estudos sobre Augusto de Campos, Paulo Leminski, Duda Machado, Antonio Risério, Arnaldo Antunes e muitos outros poetas contemporâneos, inclusive textos que foram apresentados como teses de mestrado e doutorado, em importantes universidades, brasileiras e estrangeiras. Do mesmo modo, no link de Traduções, há pequenas antologias bilíngües de poesia cubana, uruguaia, francesa e outras. Todo esse material pode ser acessado, em poucos minutos, por um internauta em São Paulo, Tóquio ou Honolulu. Qual é a revista "de papel" que oferece tais vantagens? Acho a Internet um veículo de comunicação sem precedentes, que além de democratizar o conhecimento permite o diálogo com poetas, escritores e intelectuais, via e-mail, favorecendo o intercâmbio de idéias e de projetos culturais. Por todos esses motivos, mesmo se eu pudesse editar a Zunái em formato Guttemberg, não deixaria de manter sua versão virtual circulando na Web. Desde que comecei a editá-la, em outubro de 2003, junto com Rodrigo de Souza Leão e a nossa webmaster Ana Peluso, o índice de visitação não pára de crescer, superando a marca de 50 mil visitas mensais (sendo que metade é realizada por internautas brasileiros, e a outra metade por leitores dos EUA, Portugal, Argentina, Cuba e outros países), o que demonstra o interesse que a revista vem despertando. Para finalizar, eu só teria a acrescentar uma coisa: é muito divertido e estimulante editar essa página, que tem sido motivo de regozijo para os que a lêem e editam.

WB: Você acredita que existe uma nova literatura sendo feita nos blogues, ou estamos diante de mais um fenômeno de mídia (no caso, de uma mídia alternativa)?

CD: Quando Mallarmé publicou o Lance de Dados, no final do século XIX, ele estava à frente de seu tempo. A imaginação criadora do poeta francês exigia recursos que iam muito além do espaço bidimensional da página impressa (talvez por isso não tenha realizado o seu Livro impossível). Nos anos 50, a Poesia Concreta avançou um pouco mais nesse caminho, apontando outras possibilidades de criação poética, além do discurso, da sintaxe e da própria palavra escrita, pelo diálogo com as outras artes e com a mídia eletrônica. Hoje, temos uma situação inversa: a tecnologia oferece recursos quase ilimitados para a criação, mas a capacidade imaginativa intersemiótica dos poetas e escritores entrou em declínio. O que vemos nos blogues é a adaptação de paisagens já conhecidas, como a coluna de jornal ou revista, para o ambiente virtual. Os contos e poemas publicados nos sites e revistas eletrônicas, inclusive, não foram elaborados a partir da linguagem e das possibilidades oferecidas pelo computador; são textos escritos para edição em livro, que aparecem primeiro na Web apenas por causa da facilidade em se publicar na Internet. Acredito que este seja um momento de transição, e que em futuro não muito remoto os poetas estarão desenvolvendo projetos mais ambiciosos, levando em conta os recursos oferecidos pelas novas tecnologias.
(Entrevista publicada em 2004 no site Weblivros)

3 comentários:

  1. Celso Vegro9.9.10

    Prezado prof. Claudio Daniel
    Gostei da entrevista. Os assuntos trazidos a tona percorrem muitos dos temas ainda relevantes para a apreciação de poesia na atualidade. Grato por postá-la.

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  2. Anônimo13.9.10

    " Depois, fui descobrindo outros autores, como Blake, Rimbaud, Trakl, Celan, videntes que não separavam vida e linguagem, razão e emoção, conhecimento e imaginário, nem se conformavam a um retrato ingénuo e simplista do quotidiano "

    estimado Claudio, excelente esta passagem. É assim que todo o poeta que se quer tornar deveras poeta deve encarar a poesia: poesia ( linguagem primeira, e vida são uma e a mesma coisa, como Hölderlin o fez, poeta que está à frente de todos esses nomes que citou, influenciando mesmo alguns deles deles ( Trakl, Celan ).

    É claro que isto é perigoso, é de facto voar sobre os abismos... e muitos desses poetas pagaram a sua audácia com a vida. Mas, em nome da poesia, esse risco fatal valeu a pena. Sem um Trakl, sem um Hölderlin, um Baudelaire, um Rimbaud, um Celan,um Nerval, mas mesmo um Pessoa, entre muitos outros ( poetas que podemos chamar de trágicos ) quanto mais pobre não seria a poesia.

    Luís Costa

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