(09.07.2010)
1
quando o corpo todo,
túmulo inverso
de ecos e caos,
sai pelo umbigo: camaleoa, a língua é corda
de um sino imenso dentro do peito.
*
como se os ossos voltassem à infância
para crescer até abrir outra vez
*
os tecidos. se já não há linhas nas palmas
das mãos, meu amor,
*
se já não temos costuras,
*
a linguagem vaza por todos os dedos: deixa que escorra
no meio das bocas, dos túneis,
deixa que sonhe um enxerto pra morte.
2
dá-me a noite que falece, a tua escura
escavação, e eu te entrego
*
o meu Narciso ainda
de pálpebras fechadas, ainda virgem,
*
inviolado pelo espelho.
*
mas se cantar
é cantar contra ouvido e pele, tempo de fibras,
*
mas se beleza é tu contra carne,
então cantar, cantar, pra te fazer pedaços.
*
(sêmen de luas que se olham de frente
cruza a garganta: vem
pra eu tocá-la entre cordas, cortá-la,)
3
que te antifalar
é qualquer coisa antes das grutas. há uma presa
*
que em mim grita a tua entrega de Adão nu,
ferido, feito da minha fome de costelas. vê, é só perdão
*
o que hoje em ti me pede o mundo, mudo,
é só um varal a céu aberto,
ouve as roupas
contra o vento, se confessam,
o que tens no coração.
(Confiram outros poemas da autora na Zunái, na página http://www.revistazunai.com/poemas/marceli_andresa_becker.htm)
Ouvir as roupas contra o vento que se confessam. Que lindo! Poesia pura.
ResponderExcluirBjs p/ Mar
"os tecidos. se já não há linhas nas palmas
ResponderExcluirdas mãos, meu amor,
*
se já não temos costuras,
*
a linguagem vaza por todos os dedos: deixa que escorra
no meio das bocas, dos túneis,
deixa que sonhe um enxerto pra morte."
realmente uma poeta...
Fantástico !!!!!!
ResponderExcluirAmigos, obrigada pela leitura e pelos comentários. Claudio, valeu pelo espaço e pela divulgação. Legal mesmo!
ResponderExcluirMeu amigo Tarso (oiii, Tarso!!!) disse pra mim que leu e comentou, mas não aparece aqui... Problemas com o blogger?
Beijos,
Marceli
Mar, não sei o que aconteceu, please, peça para o Tarso deixar outro comentário... belíssimo poema, viu?
ResponderExcluirBeso,
CD
Ok, Claudio, vou avisá-lo.
ResponderExcluirObrigada, tbm gostei do poema. Beijo,
Mar
LINDOOO
ResponderExcluirFez meu coração vibrar como a tempos nada fazia.
Poesia,poesia,poesia.
Que saudade....
Maravilhosoooo
LINDOOO
ResponderExcluirFez meu coração vibrar como a tempos nada fazia.
Poesia,poesia,poesia.
Que saudade....
Maravilhosoooo
Mar, tua poesia é como o chimarrão que sorvo nas frias manhãs deste inverno guapo no meu galpão interior "...vai entrando pelo sangue, curando as juntas doridas..."
ResponderExcluirJoão 14
...as coisas ao se combinarem formam o mundo, no jogo de linguagem, formam o poesia também. Você tem um traço Wittgensteiniano.
ResponderExcluirmile bacio