sexta-feira, 17 de setembro de 2010

UM POEMA DE JULES LAFORGUE

O CIGARRO

Sim, este mundo é chato e o outro, uma graça.
Eu vou resignado, sem me fiar na sorte,
E pra matar o tempo, enquanto espero a morte,
Lanço ao nariz dos deuses fitas de fumaça.

Ide, esqueletos do futuro, pobre raça.
Eu, o meandro azul que para o céu serpeia,
Mergulho em êxtase sem fim, cabeça cheia
De ópios febris de alguma estranha taça.

Adentro o paraíso, em sonhos todo imerso,
Nos quais se vão mesclar, em fantásticos ritos,
Elefantes em cio a coros de mosquitos.

E quando acordo, meditando no meu verso,
O coração pleno de júbilo, balanço
Meu polegar cozido - uma coxa de ganso.

Tradução: Augusto de Campos.

Leiam mais poemas do autor uruguaio de língua francesa Jules Laforgue, em tradução de André Vallias, na revista eletrônica Errática (ver link ao lado).

5 comentários:

  1. Claudio, o original (pra cotejar)
    Fressia

    Oui, ce monde est bien plat ; quant à l'autre, sornettes.
    Moi, je vais résigné, sans espoir, à mon sort,
    Et pour tuer le temps, en attendant la mort,
    Je fume au nez des dieux de fines cigarettes.

    Allez, vivants, luttez, pauvres futurs squelettes.
    Moi, le méandre bleu qui vers le ciel se tord
    Me plonge en une extase infinie et m'endort
    Comme aux parfums mourants de mille cassolettes.

    Et j'entre au paradis, fleuri de rêves clairs
    Ou l'on voit se mêler en valses fantastiques
    Des éléphants en rut à des choeurs de moustiques.

    Et puis, quand je m'éveille en songeant à mes vers,
    Je contemple, le coeur plein d'une douce joie,
    Mon cher pouce rôti comme une cuisse d'oie.

    ResponderExcluir
  2. Anônimo18.9.10

    Jules Laforgue foi de facto um poeta fora de comum, sendo considerado simbolista, mas que talvez não o seja bem. A verdade é que foi um verdadeiro experimentalista da linguagem poética e influenciou profundamente um Ezra Pound, um Eliot e os surrealistas. Abaixo um site muito bom com poemas, biografia etc. do poeta:
    http://www.laforgue.org/

    Luís Costa

    ResponderExcluir
  3. Anônimo18.9.10

    Ainda para dizer que Jules nasceu, é verdade, em Motevideu, tal como Lautréamont ou Jules Superville, mas nao é uruguaio, como se diz acima, pois era filho de pais franceses, de Tarbes, e regressou à frança com a idade de seis anos onde veio a morrer em Paris, tuberculoso, com apenas 27 anos de idade.

    Luís Costa

    ResponderExcluir
  4. Caro Luís, sim, Laforgue era filho de pais franceses (como Lautréamont), de língua e cultura francesa, nasceu em Montevidéu mas poucos laços teve com a cultura uruguaia. Se fosse um autor contemporâneo, poderíamos dizer que ele teria dupla nacionadade, como Reynaldo Jiménez, que nasceu em Lima, no Peru, mas vive em Buenos Aires desde os seis anos de idade.

    ResponderExcluir
  5. Anônimo18.9.10

    Estimado Claudio,

    compreendo o que me quer dizer. Mas a verdade é que Laforgue é considerado um escritor francês e não uruguaio como se diz acima. Para além do mais, segundo sei, ele só tinha a nacionalidade francesa, quer dizer, o ter nascido na Uruguai não faz dele um autor Uruguaio. Era só isso que eu queria assinalar.
    Também o meu filho nasceu na Alemanha, cresceu vive e estuda na Alemanha, mas a verdade é que não é alemão, pois só tem a nacionalidade portuguesa.

    Um abraço

    Luís Costa

    ResponderExcluir