Vieram-me aqueles olhos de estação no inferno.
Peles de gamo e urso, café e armas,
escondidas na bagagem mínima.
A rótula sã: uma mentira de acrobata.
Antes de caminhar,
já amputada,
com a estratégia dos peregrinos precocemente mumificados.
Nunca mais me viria,
como um poema para mil escravos.
(de avalon à bruma da abissínia traficante!)
Como são fátuos os versículos infiéis.
Quem resiste?
Santelmo!
E o cigarro suicida,
iludindo o sorriso cênico dos lábios.
Quem resiste?
Estrelas na brasa, tragando a própria fogueira mortuária
como um beato céu.
Quem resiste?
Talvez, uns pés livres de necromante,
de sátiro ou de magritte.
Um esqueleto de bosque negro
na densa hipnose noturna.
Espetáculo na praia para dois fiéis
de si mesmo.
Ah! Vislumbre destas matilhas de paisagens,
uivando pela presa das panteras:
Resista, até que venha a ti
a chuva feiticeira de todas as dádivas escarradas.
(assistidas, assistidas até a última quimera!)
Resista, até que venham a ti
a mimética caligrafia, o oráculo sinestésico de teu sangue,
a voz de tábua ouija.
Uns olhos de barcos bêbados, como o corpo articulado dos escorpiões.
Resisto, vidente. Desfolhada hortência na porta que dá início às ruas.
(Leiam mais poemas de Andréia Carvalho no blog O Hábito Escaralate, http://habitoescarlate.blogspot.com/)
Claudio, sabe que acho a poesia de Andréia muito próxima da tua? Na linguagem, na força, no "peso", no delírio - gosto muito. beijos!
ResponderExcluirNydia, o que me agrada na poesia da Andréia não é aquilo que se assemelha à minha, mas aquilo que é totalmente diferente... ela incorpora influências que estão ausentes na minha poética, como a do surrealismo, por exemplo. Acho que ela está bem próxima do Piva, ao mesmo tempo em que afirma uma voz própria. Abraço,
ResponderExcluirCD
É verdade, Claudio, a poesia de Andréia se aproxima também de Piva, mas tem uma identidade muito forte, personalíssima. É possível reconhecê-la. E como dizia Quintana: a voz identificável é o que faz o poeta. abraço!
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