domingo, 19 de setembro de 2010

POEMAS DE HENRI MICHAUX

MAGIA
(fragmentos)

II

Assim que a vi, desejei-a.
De início, para seduzi-la, disseminei planícies e planícies. Planícies saídas do meu olhar estendiam-se doces, amáveis, reconfortantes.
As idéias de planície foram ao encontro dela e, sem o saber, ela as percorria, sentindo-se satisfeita.
Percebendo-a bem segura, eu a possuí.
Isso feito, depois de um pouco de repouso e quietude, voltando ao meu natural, deixei reaparecerem minhas lanças, meus trapos, meus precipícios.
Ela sentiu um grande frio e que tinha se enganado completamente a meu respeito.
Ela foi embora, a fisionomia desfeita e esvaziada, como se tivesse sido roubada.

III

Acho difícil acreditar que isso seja natural e conhecido por todos. Às vezes eu fico tão profundamente entranhado em mim mesmo numa bolha única e densa que, sentado sobre uma cadeira, a menos de dois metros da lâmpada colocada sobre a mesa de trabalho, é com grande dificuldade e após um longo tempo que, apesar dos olhos bem abertos, consigo lançar um olhar até ela.

Uma emoção estranha toma conta de mim quando dou esse depoimento sobre o círculo que me isola.

Parece-me que um obus ou até mesmo um raio não conseguiriam me atingir de tantas camadas de todas as partes que tenho aplicadas sobre mim.

Simplesmente, seria bom que a raiz da angústia estivesse enterrada por algum tempo.

Nesses momentos eu tenho a imobilidade de uma cova.

Tradução: Izabela Leal.

(Leiam mais poemas de Michaux na edição de outubro da Zunái)

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