quarta-feira, 4 de agosto de 2010

DOIS POEMAS DE HENRI MICHAUX

Labirinto, a vida, labirinto, a morte
Labirinto sem fim, diz o Mestre de Ho.

Tudo afunda, nada libera
O suicida renasce para um novo sofrimento.

A prisão termina em uma prisão
O corredor termina em outro corredor:

Aquele que crê desenrolar o rolo de sua vida
Não desenrola nada em absoluto.

Nada desemboca em nenhuma parte
Os séculos vivem também sob a terra, diz o Mestre de Ho.

* * *

Sem que eles falem, lapidado por seus pensamentos

Mais um dia de menor nível. Gestos sem sombras
A qual século é preciso se inclinar para perceber?
Samambaias, samambaias, diríamos suspiros, por toda parte, suspiros
O vento espalha as folhas soltas

Força das macas, há cento e oitenta mil anos já se nascia
para apodrecer, para perecer, para sofrer
Este dia, quando éramos semelhantesquantidade de semelhantes
dia em que o vento se tragadia de pensamentos insustentáveis

Vejo os homens imóveis
deitados nas canoas

Partir.
De qualquer maneira, partir.

A longa lâmina do fluxo d´água deterá a palavra.

Tradução: Daniela Osvald Ramos

Um comentário:

  1. Henri Michaux nasceu em 24 de maio de 1899, em Namur, Bélgica, e morreu em 1984, com 85 anos, em Paris. Poeta, pintor e viajante, foi contemporâneo do Surrealismo, mas nunca aderiu a essa ou a qualquer outra escola do período. Com uma obra extensa, tanto na poesia quanto nas artes plásticas, seu relato de maior sucesso como viajante foi "Um bárbaro na Ásia", uma espécie de diário de andanças pelo continente. Também fez experiências com estados alterados de consciência, criando desenhos e poemas sob e sobre a influência de drogas alucinógenas, em especial a mescalina. Este não foi seu principal mote, mas é um dos dados mais divulgados sobre a vida do poeta. "Escrita livre", "temperamento particular", consciente da solidão intrínseca da condição humana e por vezes irônico e sarcástico; apesar destes índices, a melhor maneira de entrar em contato com Michaux, claro, é lendo-o, mas não só: viver o instante da leitura, o momento, que nunca é preso por palavras. Afinal, segundo ele, as palavras chegam "mais tarde, sempre mais tarde".

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