segunda-feira, 16 de agosto de 2010

UM POEMA DE CLAUDIO NUNES DE MORAIS

ALGUNS GUITARRISTAS

Ouvi Manolo Sanlúcar
e Isidro, o mano fiel:
de suas cañas, o açúcar

por entre os caules de fel.
Ouvi também, no Brasil,
Cañizares (Juan Manuel):

ciência, vasta e não fácil,
mas espontânea, apresenta.
Ouvi depois esse anil

das mãos de Amigo (Vicente),
que apresenta em outro tom
Córdoba: explosivamente.

E antes Solera (Antonio)
- ouvi (ou vi) bem de perto
(e revi)–, em Carmen: dom,

Bodas de Sangre em concerto.
Mas ouvi Francisco Sánchez
Gómez, Paco (o mais deserto

da história: numa avalanche
de toques que invade e muda
o toque, como revanche:

a guitarra mais aguda,
mais musical, a fronteira
também do grave, sisudo):

“o de nervos de madeira,
de punhos secos de fibra”,
o que calcula as maneiras

de cada corda que vibra
e acorda em toda a magia
do “fluido aceiro da vida”

a frágua, a gitanería,
sim, ouvi Francisco Sánchez
Gómez, Paco de Lucía:

cultivando uma avalanche
de toques, mas com mão certa,
não deixa que se desmanche

o toque que se completa
com o elenco dos tablaos
e das peñas mais secretas,

pois tal guitarra, ou granada
que explode à frente do elenco,
sempre renasce – extremada –

dos pés, da voz do flamenco.

Nenhum comentário:

Postar um comentário