sábado, 12 de junho de 2010

RELENDO FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO (IV)

ANTE-IMAGEM

Espelho de um espelho, o líquido olhar turva-se:
o amianto, hiato entre o momento e o longe.
Estou como ali, confronto o quê, ou quando: o anterior,
érebro, a noite (invoco a prata, que iluminasse);
O que sabia hesíodo ante seu vidro, os dias?
Retomo o ovo (um astro) em meu espaço;
olhos da imagem, antes do óxido, como a invocariam?

(Do livro Era, 1974)


MARVÃO

Se eu descer a encosta para a proximidade,
ouvir o corvo, defini-lo e comover-me
com o sussurro, e as vozes
humanas forem inesquecíveis.


LOUSÃ II

Aquela mulher começa a ser objeto
da escrita. Desloco-a.


ZONA DAS METÁFORAS

Estou só, na zona das metáforas
(que é todo o pensamento),
em nenhum resíduo nada exprimo
(mas sempre metaforizo).
Não sinto a solidão total
dos poemas, talvez grutas,
o mar quieto, nem silêncio.
Apenas espero o outro,
um amor esplêndido,
alheio e desejável.

(Do livro Visões Mínimas, 1968-1974)

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