quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

QUATRO POEMAS DE FABRÍCIO CLEMENTE


APRISCO DE TARAS

1
canção de gume engastado
na guelra das galáxias
brinca de abrir brechas
no corpo da manhã

2
arquipélago pulsante perambula pelo poeta
mútua marcha de morangos

ACOSSADO

as gengivas do céu
inflamam
sete cestos de lapso

CAVALO DO CAOS

este que desfia tais demências
é meu hóspede, um demônio perdulário
ou serei eu, vapor de virulência
seu hóspede inconcluso
argamassa de medo amando morsas
gritaria gozando em sóis-fracassos
numa esquina, soberbo multiplica
espasmo outrora entrave e correnteza
subterrânea seringa que me singra
e sorve naufrágios frutificando fratricídios

AS FENDAS DO MURO

Seus cabelos são uma matilha de casarões entre os ventos de meus dedos
Um lago fita infâncias nos seus lábios
Todas as janelas foragidas
Vejo um tango de icebergs nos carrilhões dos seus olhos
Aí certamente adormecem os nômades do basalto
Aí saltam girassóis de cachecol chamejante
Um martírio de morangos em suas orelhas
Os pedestres gritam greves azuis pelos seus poros
Uma lâmina estende mesquitas de néon pela explosão da avenida
Persiste um planeta de puro amor
Nos gestos de seu colar ancestral
Na máscara prismática do imprevisto
Na pele incandescente, na surdez das planícies
Este dia desliza pelo clamor sem raízes
Seu rosto é um pomar de tigres
Duas fontes de mãos dadas descem a calçada
Crivando as rotas com ritmo de rinoceronte
Há um jardim que afirma no fim de cada teu gesto
Que o ferrolho do infinito
Outorga-nos horóscopos
De puro orvalho

(Leiam mais poemas do Fabrício na próxima edição da Zunái, saindo do forno...)

5 comentários:

  1. Nossa, arrebentou!
    "Há um jardim que afirma no fim de cada teu gesto"...
    Lindo demais, Claudio, lindo assim eu não esperava. Fiquei encantada.

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  2. Anônimo9.12.09

    Marceli, eu também tive uma ótima surpresa com os poemas do Fabrício, e tem muito mais na Zunái de dezembro, aguarde. Hoje, enviei duas coisas para você pelo correio, please, avise-me quando receber... beso,

    CD

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  3. Uau !! Poemas encorpados !! Ilustram bem o que o Willer compilou na postagem anterior sobre "imaginação, críticas ao realismo, sonho e loucura".
    ... E, de fato, alucinações, ilusões, etc, são fonte de gozo nada desprezível. (Breton)

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  4. Claudio, avisarei, sim, obrigada!

    Esse trabalho que a gente encontra na Zunái e no teu blog não tem pra matar... É a minha maior referência em poesia, literatura... Obrigada por isso tbm!

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  5. Vou te dizer uma coisa, ô Cláudio, esse poeta Fabrício Clemete é bom pra caralho! Tem tudo que a poesia precisa ter: potência&vida! É pena não ter um blog, um email público, um meio qualquer de podermos dizer isso na cara dele.
    Abraço.

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