segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

DOIS POEMAS DE FIGURAS METÁLICAS

FORMIGA

Pequeno dragão
doméstico.

Cabeça grávida
de hibisco.

Rústico abdome-
cogumelo.

Escava o incerto
dos dias,

para a trilha
vertical

de farelo,
fúria e folhas.

Carrega seus mortos
nas costas,

com precisa
geometria

de fábrica
fúnebre.

CABEÇAS DE FORMIGA

Como este breve sentimento de decomposição, falanges
à maneira do escuro.
Linha tênue de folhas recortadas
e cabeças
de formiga.
Pétalas roxas,
um tipo de bolor.
Passos escuros
no jardim.
Ritmos podres
de cadela.
Fumo branco,
idéias pesadas
e algo que se desdobra no espaço
curvo
em aromas
de tantálico
negrume.

— Nenhuma música, ali; nada além da carne
dos cogumelos
e seu escarro.

(Do livro Figuras Metálicas, de Claudio Daniel. São Paulo: Perspectiva, 2005)

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