quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

DOIS POEMAS DE WILSON BUENO

17

Lancinantes os bicos-pássaros
Com que vos fura o túmido ventre
Já cadáver de nós e de nossa víscera
O que chamamos Amor, suas anáguas,
Festim de lírios, zumbir de abelhas
O que de Amor foi enlevo e até cansaço
– Mesmo o açoite e as costas em brasa? –
Se fomos um no Amor consorte
E hoje somos, Amor, retalhos de nós mesmos,
Pobres panos, chita, organdi, seda rala
E foi Amor, sim, que nos fez tão inimigos!

28

Cai-me ao colo Amor de súbito
Um susto, um esgar, um bramido.
Estertor de tudo – desamor Amor ao avesso?
Quero-vos lúmpen, maltrapilha, campesina
Quero-vos riacho e manso açude.
Amor, entanto, vocifera pontiagudo
Mural de rochas e lascas e espelhos e cardumes
A fingir do Amor – casta figura? –
O Desamor em pêlo, às turras,
Aos vozeios, facas, murros, unhas
A alvoroçar o silêncio de agulhas.

(Do livro inédito 35 Poemas de Amor.)

2 comentários:

  1. Anônimo23.12.09

    Soube por uma amiga que havia poemas inéditos de WB aqui. Duas obras primas. só isso: duas obras primas. Queremos mais.
    Marisa Santos

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  2. Marisa, agradeço pela visita. Sim, são duas obras-primas. Wilson Bueno não se contenta em ser um ficcionista de originalidade temática e invenção formal, qualidades raras hoje em dia, ele ainda faz questão de ser um grande poeta. Eu também quero ler mais poemas desse livro. Há braços,

    Claudio

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