quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

COME-SE O BOI EM AZIMUTE


Eu caminhava tensamente sob o céu.

La existencia son dos noches que crees consecutivas.

A rainha ensanguentada entre as espadas e o ouro do baralho.

A forma que diz: cá estou, pronta.

Esta cidade sempre lhe foi hostil

E seu projeto mais ousado era pedir, dentro daquele estranho idioma, um copo com água.

De noite corpo quente abraçando cinza, de dia deriva

Tras el atuendo el sable aún se afila oh samurai

O cassetete atesta a tecla do corpo.

Lambendo a vértebra dos metais copulava com tudo o que do dia para a noite se mudasse para outra cidade

Pé ante pé na estepe o silêncio não fisga a tempestade nos lábios do sossego

Ele colhia e re-colhia os diamantes do asfalto.

Quem confere fere com fera será conferido.

Poema de amigo meu pra mim é prosa.

Miragens cravadas em luas cores e ventos

É sopa a excessiva colher queimada sem concha no metal dos lábios sintoma de dedos

Come-se o boi em azimute (omoplata-úbere): minotauroencéfalofagia

E corria por dentro das veias uma dispersão de venenos e vidros.

De ahí el sombrero hongo y la amanita en diestra alzada en haz de Zeus o de electrones.

Um barulho dentro de mim que não cessa de se cansar.

O pomar veste duas faces - paraíso e queda

Las yiyis de la tripefrontera están cansadas de fingir orgasmo...

Não me ofereça o paraíso — preciso de uma sombra


Setembro / outubro de 2009

Editorial da edição de dezembro da Zunái: cadáver delicado composto com a colaboração de Leonardo Gandolfi, León Félix Batista, Antônio Moura, Lígia Dabul, Donizete Galvão, Eduardo Jorge, Sérgio Cohn, Reynaldo Jiménez, Armando Freitas Filho, Márcio-André, Ricardo Corona, Micheliny Verunschk, Ademir Assunção, Rodrigo Garcia Lopes, Lau Siqueira, Abreu Paxe, Delmo Montenegro, Izabela Leal, Victor Sosa, Fabíola Ramon, Andréa Catrópa, Douglas Diegues e José Geraldo Neres.

6 comentários:

  1. leonardo gandolfi12.12.09

    Nossa! que pegada -- ficou très bien

    ResponderExcluir
  2. Leo, ficou bacana mesmo, né?

    Bração,

    CD

    ResponderExcluir
  3. também gostei muito; principalmente por se tratar de um editorial. abração.

    ResponderExcluir
  4. Mais uma vez, Zunai acerta a mão!

    ResponderExcluir
  5. Caro Victor, como a Zunái terá um caderno dedicado aos 90 anos da poesia surrealista, achei oportuno que o editorial fosse um poema composto na forma de "cadáver delicado", por autores contemporâneos... e o resultado foi um bom poema, não? Há muito preconceito, ainda, no Brasil, em relação ao surrealismo, que a meu ver precisa ser compreendido de modo inteligente e criativo, sem a parcialidade tacanha de seus epígonos (que consideram tudo sob uma ótica surrealizante) e detratores (que negam qualquer mérito a essa estética). O abraço do

    CD

    ResponderExcluir
  6. Caro Wilson, grato!

    O abraço do

    Claudio

    ResponderExcluir