POEMA
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
O GATO DITO DOMÉSTICO OU DE LINEU
Primo em linha recta do Gato Legível, uma nem sempre fundada tradição de abandalho pesa sobre a origem egípcia, eminentemente cruel e aristocrática, dos da sua espécie. O GATO urina com êxito nos objectos de lar, e quando a angina estala enfim os peitos da patroa que julgou poder fretá-lo para pequenas voltas, O GATO esfrega os olhos, abre uma janela, e voa toda a noite, de barriga para cima. Nestas surtidas voantes encontra-se por vezes com os seus camaradas libertários, e então acendem fogos que, uma vez por ano, formam cortejo em direcção à Lua, onde um gato já cego os devolve aos espaços, transformados em cinza e em máquinas de luar.
O GATO DITO DOMÉSTICO OU DE LINEU
Primo em linha recta do Gato Legível, uma nem sempre fundada tradição de abandalho pesa sobre a origem egípcia, eminentemente cruel e aristocrática, dos da sua espécie. O GATO urina com êxito nos objectos de lar, e quando a angina estala enfim os peitos da patroa que julgou poder fretá-lo para pequenas voltas, O GATO esfrega os olhos, abre uma janela, e voa toda a noite, de barriga para cima. Nestas surtidas voantes encontra-se por vezes com os seus camaradas libertários, e então acendem fogos que, uma vez por ano, formam cortejo em direcção à Lua, onde um gato já cego os devolve aos espaços, transformados em cinza e em máquinas de luar.
(Sim, a Zunái está atrasada, eu sei, mas logo estará on line, com mais poemas de Mário Cesariny...)
Mário Cesariny de Vasconcelos nasceu em Lisboa em 1923. Estudou música e frequentou a Escola de Artes Decorativas António Arroio. Esteve em Paris onde conheceu André Breton, cujas ideias o levaram a fundar, junto com outros autores, o Grupo Surrealista de Lisboa em 1947, que teve vida curta. Cesariny forma entao um grupo disidente chamado Os Surrealistas. Como pintor, participou das exposicoes dos Surrealistas em 1949 e 1950. Com o passar dos anos, Cesariny dedicou-se cada vez mais à escrita, publicando Corpo Visível (1950), Discurso Sobre a Reabilitação do Real Quotidiano (1952), Louvor e Simplificação de Álvaro de Campos (1953), Manual de Prestidigitação (1956), Pena Capital (1957), entre outros. Morreu em Lisboa em 2006.
ResponderExcluirClaudio, adoro Mário Cesariny... Vai ter Al Berto tbm?
ResponderExcluirAndresa, terá um ensaio sobre o Al Berto.
ResponderExcluirBeso,
Cld.