POEMA FINAL
Ó cores virtuais que jazeis subterrâneas,
- Fulgurações azuis, vermelhos de hemoptise,
Represados clarões, cromáticas vesânias -,
No limbo onde esperais a luz que vos batize,
As pálpebras cerrai, ansiosas não veleis.
Abortos que pendeis as frontes cor de cidra,
Tão graves de cismar, nos bocais dos museus,
E escutando o correr da água na clepsidra,
Vagamente sorris, resignados e ateus,
Cessai de cogitar, o abismo não sondeis.
Gemebundo arrulhar dos sonhos não sonhados,
Que toda a noite errais, doces almas penando,
E as asas lacerais na aresta dos telhados,
E no vento expirais em um queixume brando,
Adormecei. Não suspireis. Não respireis.
(Do livro Clepsidra)
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
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Ótima escolha, Claudio. Abraços!
ResponderExcluirCaro, o Pessanha é um de meus poetas portugueses favoritos. Clepsidra, a meu ver, antecipa muita coisa do Herberto Helder. Abração,
ResponderExcluirCD