LETRA NEGRA (fragmentos)
XII
invento estranhos jogos, ó górgonas, busco uma saída para a insânia. crio nomes para as cores: azul é asmodeus, vermelho, belial, roxo, astaroth, branco, balam, violeta, astarté. alucino palavras até queimarem parietais, rótulas, tendões, nervos retorcidos em rude seqüência de mutações. renomeio teu corpo, matéria transfigurável, ao percorrê-lo de esperma: boca é amêijoa, dorso é fataça, vagina é lagamar, olhos são gavinhas, tetas são guantes, e assim até o extremo da pele. escrevo nomes para o teu nome: você é agramática majólica, replicante sexual, lince nervurada, ubíqua sulamita, ninfa alvaiade, náutila lupina, mielina menina da fronteira.
XXI
desofuscar difrações epidérmicas
vegetal noturno grafias de retráteis.
corrosão, sede nocaute de especulares
seqüência de mamíferos ao ignorado,
vegetal noturno atravessa buceta réptil.
XXII
descontínua realidade mandíbula de mamute ou mandala.
XXIII
águas coléricas
nas folhas,
esqueletos
de carros
convertidos
em rasuras,
cão desenterra
secas cabeças
de cogumelos
— fragmentos
de metáforas
podres:
paisagem
que se transfigura
e definha
entre uma
respiração
e um breve piscar
de pálpebras.
XXVIII
caranguejos da noite
invento estranhos jogos, ó górgonas, busco uma saída para a insânia. crio nomes para as cores: azul é asmodeus, vermelho, belial, roxo, astaroth, branco, balam, violeta, astarté. alucino palavras até queimarem parietais, rótulas, tendões, nervos retorcidos em rude seqüência de mutações. renomeio teu corpo, matéria transfigurável, ao percorrê-lo de esperma: boca é amêijoa, dorso é fataça, vagina é lagamar, olhos são gavinhas, tetas são guantes, e assim até o extremo da pele. escrevo nomes para o teu nome: você é agramática majólica, replicante sexual, lince nervurada, ubíqua sulamita, ninfa alvaiade, náutila lupina, mielina menina da fronteira.
XXI
desofuscar difrações epidérmicas
vegetal noturno grafias de retráteis.
corrosão, sede nocaute de especulares
seqüência de mamíferos ao ignorado,
vegetal noturno atravessa buceta réptil.
XXII
descontínua realidade mandíbula de mamute ou mandala.
XXIII
águas coléricas
nas folhas,
esqueletos
de carros
convertidos
em rasuras,
cão desenterra
secas cabeças
de cogumelos
— fragmentos
de metáforas
podres:
paisagem
que se transfigura
e definha
entre uma
respiração
e um breve piscar
de pálpebras.
XXVIII
caranguejos da noite
arranham farpas
esfiapam silêncio
sem órbitas de vogais
parietais de esqueletos
investidos de ódios
em onde de nuncas:
noite é a ferida do nome
noite é queimam palavras
ferida é nunca de nunca mais
XXIX
esta é a maneira de sermos brutais,
com a aspereza
de quem caminha
pelas ruas,
mascando lascas.
não preciso dar explicações
com palavras de madeira,
porque sou impuro
e espontâneo
como a fera.
esta é minha sombra magra, confesso,
estes, os meus passos desordenados.
nenhuma estrela para definir o dramatismo da noite
ao longo da jornada,
nem os ramos
de uma árvore inclinada.
quem considere imprecisa a descrição,
que escreva o seu próprio
rascunho,
com a fúria
violeta
do escaravelho.
sem contar nove vezes
menos um eco,
sigo minha jornada bípede,
de energúmeno.
nada aqui faz sentido para os meus lábios
vociferantes;
e como não venero
deuses de esterco,
nem as clausuras
cíclicas da história,
sigo andando
com minhas omoplatas,
minhas axilas,
meu caralho,
minha testa
desenhada
com símbolos alquímicos,
e um poema
escrito para ninguém
nas linhas torcidas
investidos de ódios
em onde de nuncas:
noite é a ferida do nome
noite é queimam palavras
ferida é nunca de nunca mais
XXIX
esta é a maneira de sermos brutais,
com a aspereza
de quem caminha
pelas ruas,
mascando lascas.
não preciso dar explicações
com palavras de madeira,
porque sou impuro
e espontâneo
como a fera.
esta é minha sombra magra, confesso,
estes, os meus passos desordenados.
nenhuma estrela para definir o dramatismo da noite
ao longo da jornada,
nem os ramos
de uma árvore inclinada.
quem considere imprecisa a descrição,
que escreva o seu próprio
rascunho,
com a fúria
violeta
do escaravelho.
sem contar nove vezes
menos um eco,
sigo minha jornada bípede,
de energúmeno.
nada aqui faz sentido para os meus lábios
vociferantes;
e como não venero
deuses de esterco,
nem as clausuras
cíclicas da história,
sigo andando
com minhas omoplatas,
minhas axilas,
meu caralho,
minha testa
desenhada
com símbolos alquímicos,
e um poema
escrito para ninguém
nas linhas torcidas
de meus pulsos.
(Letra Negra. São Paulo: Arqueria Editorial, 2010)
poesia que diz kilaya kilaya kilaya e não pára de repetir e multiplica-se nos poros infinitas mínimas lâminas diamantes líquidas poesia com boceta caralho sêmen deuses demonizados signos olvidados mas vivos quando pronunciados segundo as 40 e 80 regras da arte poesia de lamber os corpos de festejar os corpos de desejar ter corpo de fazer dançar nu num paganal o que pode um corpo poesia de menarcas doces de espermas primevos do subitamente descoberto fauno da montanha de cobre poesia que obriga dizer poesia de fazer gritar
ResponderExcluir.............................................
assim é a tua
Intrigante! Parabéns meu amigo! Assim que chegar sua plaquete vou postar fragmentos desse instigante e enigmático poema no Poesia Diversa.
ResponderExcluirLetra Negra foi uma das experiências mais arrebatadoras que tive com poesia... Nunca vou esquecer.
ResponderExcluirAinda: sua poesia é um grito. Uma violência de palavras que se buscam outras na consciência de sua fragilidade semântica. O corpo ressurge nesses fragmentos de Letra Negra como o ponto visceral da poesia de vértices e ossatura que não deseja agradar a ninguém pq segue procurando se postar abertamente e fiel a si mesma: a ser poesia do corpo que se abre à sua própria investida como letra negra, porque essa poesia mesma diz: "não preciso dar/explicações/com palavras de madeira,/porque sou impuro/e espontâneo/como a fera".
ResponderExcluirBjs!
Susannah, a Letra Negra tem esses dois aspectos, a violência e o lirismo, a ossatura e a sensualidade da pele... e houve também influência de aspectos do pensamento de Zigmunt Bauman (o conceito de modernidade líquida, em especial). O poema na íntegra está na página http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=3849, mas vale a pena pedir a plaquete para a Virna, pois a edição ficou linda!
ResponderExcluirBeso,
CD
Pedro e Hilton, grato pela leitura e comentários!
ResponderExcluirCD
Marceli, quando eu te enviei o poema, sabia que você ia gostar... um beijo do
ResponderExcluirClaudio