sábado, 7 de novembro de 2009

DIÁRIO DE UM ANTICRÍTICO (IV)

A crítica literária é sempre parcial, uma vez que a apreciação de um poema, conto, novela, romance ou outro tipo de texto literário baseia-se em padrões de gosto, em conceitos a respeito da beleza, da verdade, da ética, do artesanato formal ou das relações com a sociedade. Cada crítico adota um método de avaliação derivado de uma poética, ou seja, de uma visão mais ampla sobre o fazer literário. Um crítico de orientação formalista irá privilegiar aspectos estruturais e semânticos, irá pensar o texto enquanto construção de linguagem, enquanto um crítico sociologizante irá colocar em primeiro plano o contexto histórico e social da obra literária e as relações entre esse pano de fundo e a obra analisada. Há várias outras operações críticas de leitura, como a estética da recepção ou a crítica genética, por exemplo, e com certeza nenhuma é capaz de dar a palavra final sobre um texto literário; no máximo, quando bem construída e fundamentada, a crítica consegue iluminar alguns pontos que auxiliam a compreensão de uma obra. As polêmicas entre teóricos de diferentes escolas, como a travada por Roberto Schwartz e Augusto de Campos a respeito do poema Pós-tudo, são batalhas de idéias entre poéticas; se deixamos de lado a simpatia por este ou aquele e o envolvimento emocional com o debate, a polêmica pode se revelar útil, se demonstra os valores, métodos e critérios de avaliação de cada um dos contendores, ou pode se mostrar algo estéril, quando se trata de simples competição de vaidades. Isto é o que diferencia a atividade intelectual, fundamentada em argumentos, e a pura e simples maledicência. Um crítico literário sério tenta compreender uma obra antes de escrever sobre ela; busca entender a poética do autor, como e por quê ele construiu o seu texto dessa forma, e não de outra, enfim, quer avaliar a forma sintática e semântica e os efeitos estéticos pretendidos pelo autor analisado, à luz dos valores e conceitos do próprio crítico. Nem sempre esta é a atitude profissional de alguns de nossos críticos, que preferem substituir a seriedade intelectual e a argumentação por ataques pessoais grosseiros, movidos por simples inveja, ressentimento e ainda para agradar a seus padrinhos influentes, numa atitude servil, canina, de bajulação sem ética ou princípios de qualquer natureza. Quando não há o mínimo de sinceridade, respeito e objetividade numa discussão, ela fica esvaziada em sua essência narcísica. Não se trata mais de debate literário, mas de um caso para a psiquiatria.

4 comentários:

  1. Claudio, eu concordo inteiramente com vc. Andei lendo alguns críticos (não é preciso citar nomes...) e notei de forma escancarada dos ataques pessoais, ao invés de se deterem na análise da obra; essa tb. deveria ser feita sem ranço ou inveja. Abraço.

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  2. Caro Sidnei, o que tais críticos (koff, koff, koff) fazem não é análise literária ou trabalho intelectual. Abraço,

    Claudio

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  3. Anônimo8.11.09

    Claudio Daniel, você está se referindo ao Polzonoff (Rascunho), ao Dohlnikoff (Revista Sibila) ou ao conde Orloff (do Nosferatu)? O baixo nível moral e intelectual dessa galera é realmente uma ofensa a todos os que amam a literatura e a poesia. Um beijo,

    Camila

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  4. Camila, a carapuça é para todos os bofes que quiserem usá-la. Beso,

    CD

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