quarta-feira, 21 de abril de 2010

POETAS DA PÉRSIA: OMAR KHAYYAM

No céu, a mão esquerda da alvorada: eu sonho.

Na taverna, uma voz escuto na algazarra

Despertai meu pequenos, e enchei bem o copo

Antes que seque o vinho da vida em sua jarra.

Ah enche o copo! De que serve repetir

Que o tempo sob os nossos pés já vai fugindo?

O amanhã não nasceu e o ontem já morreu,

Por que me hei de importar se o dia de hoje é lindo?

E ao côncavo invertido que se chama o céu,

Sob o qual rastejaram o vivo e o que morreu,

Não erga tuas mãos, tu que oras. Ele é impotente

No seu guiar, tal qual o somos tu e eu.

O dedo que se move escreve, e tendo escrito,

Se vai. E toda argúcia e piedade, entretanto,

Não o trarão de volta a mudar meia linha,

Nem as palavras podes apagar com o pranto.

E se o vinho que bebes, o lábio que beijas

Finda nesse nada que a tudo dá sumiço,

Imagina, então, que és; não podes ser senão

O que hás de ser – Nada! Não serás menos que isso.

Tradução: Alexandre S. Rocha

(Leiam outros poetas persas na edição de maio da Zunái.)

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