PRISÃO DO AR
As sílabas se dissolvem na saliva
Trespassa a agulha
Cravada na gengiva.
Flutua a fratura do silêncio.
Sou esse sopro
Naufrágio de pássaros
Canto que transmigra em tremores
Um marujo no útero da terra.
MIRANTE DOS SONHOS
Olhos alados na curva do tempo
Absorto na fechadura das parábolas
Arrasto o pedúnculo da memória.
Pelos declives de ipês pranteados
Dedos de lâminas trançadas
Acariciam a aurora
Nasce o susto.
Expira
Fragmentos de mica
Constroem o céu
Inspira
O halo ambarado pousa na pele
Descanso com os pés imersos à vida.
DISSOLUÇÃO
As paredes debulham
Um pranto espesso
Um sono de arsênico
Apaga as sombras
E o corpo é uma residência
Bombardeada - projétil apontado para
O deserto.
Tudo se faz ilha
Beira-mar de chumbo
Olhos raptam um manto cinza
As pupilas resistem
E cristalizam uma faísca
Indomável de vida
Os faróis dançam na tormenta
O crânio solda o peso do dia - coral flutuando
Nas mãos do martelo
Teu abraço tudo dissolve.
SEM TÍTULO
I
Ele é um homem
que arrasta os dedos
nos bolsos
Guarda violinos
nas costas
Perfura subterrâneos
de desordem
Descansa em casas
vazias
Constrói vitrais
no mar
Oferece minuetos
aos pés
Percorre a via férrea
da velhice
E jura a vida
diante da rocha.
II
Circularmente
as lâminas resvalam o maxilar
Há dias carcomidos
em que o esqueleto
não suporta o mais leve
sobressalto
Há dias
em que o sol é uma úlcera
cerrando os olhos
E o abismo um feixe
de âmbar e sal
É o homem
que apunhala as raízes
dos cadáveres
Não há retorno
Você
Fratura o percurso ígneo
da noite taciturna de braços em riste.
Recriando
os oceanos dos cabelos dos loucos.
(Leiam mais poemas da Ariane na edição de maio da Zunái.)
quarta-feira, 21 de abril de 2010
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Poesia imágética na medida, sem atordoar com uma demasia de cores oníricas.
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