quarta-feira, 21 de abril de 2010

POEMAS DE ARIANE ALVES DOS SANTOS

PRISÃO DO AR

As sílabas se dissolvem na saliva
Trespassa a agulha
Cravada na gengiva.

Flutua a fratura do silêncio.

Sou esse sopro
Naufrágio de pássaros
Canto que transmigra em tremores

Um marujo no útero da terra.


MIRANTE DOS SONHOS

Olhos alados na curva do tempo
Absorto na fechadura das parábolas
Arrasto o pedúnculo da memória.

Pelos declives de ipês pranteados
Dedos de lâminas trançadas
Acariciam a aurora
Nasce o susto.

Expira
Fragmentos de mica
Constroem o céu
Inspira
O halo ambarado pousa na pele

Descanso com os pés imersos à vida.

DISSOLUÇÃO

As paredes debulham
Um pranto espesso

Um sono de arsênico
Apaga as sombras
E o corpo é uma residência
Bombardeada - projétil apontado para
O deserto.

Tudo se faz ilha
Beira-mar de chumbo

Olhos raptam um manto cinza
As pupilas resistem
E cristalizam uma faísca
Indomável de vida

Os faróis dançam na tormenta
O crânio solda o peso do dia - coral flutuando
Nas mãos do martelo

Teu abraço tudo dissolve.


SEM TÍTULO

I

Ele é um homem
que arrasta os dedos
nos bolsos
Guarda violinos
nas costas
Perfura subterrâneos
de desordem
Descansa em casas
vazias
Constrói vitrais
no mar
Oferece minuetos
aos pés
Percorre a via férrea
da velhice
E jura a vida
diante da rocha.

II

Circularmente
as lâminas resvalam o maxilar

Há dias carcomidos
em que o esqueleto
não suporta o mais leve
sobressalto
Há dias
em que o sol é uma úlcera
cerrando os olhos
E o abismo um feixe
de âmbar e sal

É o homem
que apunhala as raízes
dos cadáveres

Não há retorno

Você
Fratura o percurso ígneo
da noite taciturna de braços em riste.
Recriando
os oceanos dos cabelos dos loucos.

(Leiam mais poemas da Ariane na edição de maio da Zunái.)

Um comentário:

  1. Poesia imágética na medida, sem atordoar com uma demasia de cores oníricas.

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