domingo, 21 de julho de 2013

UM POEMA DE RODRIGO GARCIA LOPES

MANASOTA KEY

Nas páginas do mar
pelicanos em linha
escrevem as sombras de seus peitos
ao quase tocarem uma onda.
O sol rascunha rubros
bilhetes de despedida, toda tarde.
Golfinhos, suas barbatanas
relatam os rudes caminhos
pela pradaria das baleias.
Mergulhões redigem sua escrita kamikaze,
suicida, invisível por instantes.

Nas páginas da areia
(cujas conchas são suas obras completas)
fósseis negros de dentes de tubarão
escrevem a autobiografia
de dois milhões de anos.
Rastro de guaxinim,
seu romance de aventura
da duna à estrada.
Um siri deixa sua assinatura
sobre marcas de pneus de um SUV.
Garrafa com uma mensagem, um pen drive
com a história de um naufrágio.

Nas páginas do céu
nuvens ancestrais e sempre-novas relatam
suas viagens sobre o mundo, infinitas.
Furacões emplacam best-sellers
sobre o Golfo do México
enquanto folhas de outono caligrafam no ar
ideogramas precisos,
memórias do vento.
Satélites traçam haicais de luz.
A lua amarelo-limão descreve seu brilho solene

sobre as palmeiras da Flórida.

Eu não escrevo nada. 

(Confiram mais poemas de Rodrigo Garcia Lopes na edição de agosto da Zunái)

Um comentário:

  1. Muito bom! "Golfinhos, suas barbatanas
    relatam os rudes caminhos
    pela pradaria das baleias."
    Personificação e uma dose de audácia. E esta lua que é brasileira, comunga com a caipirinha. "A lua amarelo-limão descreve seu brilho solene

    sobre as palmeiras da Flórida"

    kátia

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