segunda-feira, 1 de novembro de 2010

POEMAS EM PROSA (I)

O ESTRANGEIRO

— A quem mais amas tu, homem enigmático, dize: teu pai, tua mãe ou teu irmão?
— Eu não tenho pai, nem mãe, nem irmã, nem irmão.
— Teus amigos?
—Você se serve de uma palavra cujo sentido me é , até hoje, desconhecido.
— Tua pátria?
— Ignoro em qual latitude ela esteja situada.
— A beleza?
— Eu a amaria de bom grado, deusa e imortal.
— O ouro?
— Eu o detesto como vocês detestam Deus.
— Quem é você então que tu amas, extraordinário estrangeiro?
— Eu amo as nuvens... as nuvens que passam lá longe... as maravilhosas nuvens!

(Charles Baudelaire, Pequenos Poemas em Prosa. Rio de Janeiro: Record, 2006. Tradução: Gilson Maurity.)

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