sexta-feira, 26 de novembro de 2010

POEMAS DE ADONIS (III)

CANÇÃO DO ORIENTE

Fiz-me espelho

rebati tudo

mudei em teu fogo a cerimônia da água e da vegetação

mudei voz e apelo

Passei a ver-te em dois

tu e esta pérola que nada em meus olhos

eu e a água nos fizemos amantes

nasço em nome da água

nasce em mim a água

eu

e a água

nos replicamos


ÁRVORE DOS CÍLIOS

... e quando resignei-me na ilha das pálpebras

em ser hóspede das conchas e dos rastros

vi que o destino é um frasco

com águas e fagulhas

pronto a fazer do homem

mito ou fogo lendário


e eu ia carregado sobre os ramos

num bosque lácteo enfeitiçado

o seu dia consagrado à loucura era

minha cidade e a noite recinto íntimo

Tradução: Michel Sleiman

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