segunda-feira, 28 de setembro de 2009

DO LIVRO POETA EM NOVA YORK (XV)


MENINA AFOGADA NO POÇO
Granada y Newburg

As estátuas sofrem com os olhos pela escuridão dos ataúdes,
porém sofrem muito mais pela água que não desemboca.....
que não desemboca.

O povo corria pelas ameias rompendo as varas dos pescadores.
Pronto! As margens! Depressa! E coaxavam as ternas estrelas....
que não desemboca.

Tranquila em minha memória, astro, círculo, meta,
choras pelas bordas de um olho de cavalo....
que não desemboca.

Mas ninguém poderá dar-te distâncias no escuro,
a não ser o limite afilado: porvir de diamante....
que não desemboca.

Enquanto as pessoas buscam silêncios de almofada
você geme para sempre definida em teu anel....
que não desemboca.

Eterna nos finais das ondas que aceitam
combate de raízes e prevista solidão....
que não desemboca.

Já vêm pelas rampas! Levanta-te da água!
Cada ponto de luz te dará uma cadeia!...
que não desemboca.

Mas o poço alarga tuas pequenas mãos de musgo
insuspeitada ondina de tua própria ignorância....
que não desemboca.

Não, que não desemboca. Água fixa em um ponto,
respirando com todos seus violinos sem cordas
na escala das feridas e dos edifícios desabitados.
Água que não desemboca!

Tradução: Claudio Daniel

Um comentário:

  1. Anônimo6.10.09

    Maravilhoso, Claudio Daniel, o poema recriado. Aliás, o Pele de Lontra continua o fino...
    Abraços,
    WB

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