Comecei a ler poesia aos 13 anos, com as Flores do Mal, de Baudelaire, e o Corvo, de Edgar Allan Poe. Meu pai, que sabia de cor os versos de Vou-me embora pra Pasárgada, insistiu para que eu lesse Manuel Bandeira. Confesso que a primeira impressão que tive após ler a Estrela da Vida Inteira foi a de pura e simples indiferença: “não é Baudelaire”, devo ter pensado na época, “não é Rimbaud, nem William Blake, nem Maiakovski”. Eu não entendia como alguém que escrevia versos como “Para cá, para lá... / Para cá e... / — O novelozinho caiu” era considerado um grande poeta. Mesmo os versos de Pasárgada, que levavam meu pai às lágrimas, eu achava banais e previsíveis. Claro, entre o final da adolescência e as aulas de literatura brasileira no cursinho eu pude aceitar a sua importância histórica, de “São João Batista do Modernismo”, e, mais do que isso, um homem de cultura enciclopédica, bom ensaísta, crítico, tradutor e raro conhecedor de poesia latino-americana contemporânea. Sem dúvida, um dos maiores intelectuais que tivemos em nossa literatura.
Porém, relendo a Estrela da Vida Inteira, em diversas fases de minha vida, até os dias de hoje, noto que minha opinião sobre a poesia de Manuel Bandeira pouco mudou: não gosto do uso de diminutivos, que, a meu ver, tornam os versos tolos (“Santa Teresa não, Teresinha... / Teresinha do Menino Jesus”); irritam-me as “ternurinhas” do poeta com o seu porquinho da índia, o tom ingênuo-sentimental de boa parte de sua produção (ele foi um herdeiro da poesia romântica e simbolista, como Cecília Meireles), a coloquialidade prosaica, as fotografias de cenas cotidianas, inspiradas em crônicas de jornal... tudo isso, sempre achei muito, muito chato, algo que não me diz respeito, simplesmente.
Eu curtia sim, e curto até hoje as invenções de Oswald de Andrade (em especial a prosa poética de Memórias Sentimentais de João Miramar), a música dissonante de Raul Bopp (Cobra Norato), as imagens poéticas de Murilo Mendes (Siciliana e Tempo Espanhol, sobretudo), alguns versos da Invenção de Orfeu, de Jorge de Lima, a Rosa do Povo e a Máquina do Mundo, de Drummond... mas, de Manuel Bandeira, eu poderia fazer uma antologia com apenas 30 poemas (sendo o meu favorito, até hoje, o Pneumotórax, com a sua deliciosa crueldade). Claro que não é qualquer um que escreve poemas como Evocação do Recife, e escrever apenas um bom poema pode ser a justificativa de toda uma vida de trabalho literário. Agora, não o considero um poeta da mesma estatura que Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade ou João Cabral de Melo Neto.
Porém, relendo a Estrela da Vida Inteira, em diversas fases de minha vida, até os dias de hoje, noto que minha opinião sobre a poesia de Manuel Bandeira pouco mudou: não gosto do uso de diminutivos, que, a meu ver, tornam os versos tolos (“Santa Teresa não, Teresinha... / Teresinha do Menino Jesus”); irritam-me as “ternurinhas” do poeta com o seu porquinho da índia, o tom ingênuo-sentimental de boa parte de sua produção (ele foi um herdeiro da poesia romântica e simbolista, como Cecília Meireles), a coloquialidade prosaica, as fotografias de cenas cotidianas, inspiradas em crônicas de jornal... tudo isso, sempre achei muito, muito chato, algo que não me diz respeito, simplesmente.
Eu curtia sim, e curto até hoje as invenções de Oswald de Andrade (em especial a prosa poética de Memórias Sentimentais de João Miramar), a música dissonante de Raul Bopp (Cobra Norato), as imagens poéticas de Murilo Mendes (Siciliana e Tempo Espanhol, sobretudo), alguns versos da Invenção de Orfeu, de Jorge de Lima, a Rosa do Povo e a Máquina do Mundo, de Drummond... mas, de Manuel Bandeira, eu poderia fazer uma antologia com apenas 30 poemas (sendo o meu favorito, até hoje, o Pneumotórax, com a sua deliciosa crueldade). Claro que não é qualquer um que escreve poemas como Evocação do Recife, e escrever apenas um bom poema pode ser a justificativa de toda uma vida de trabalho literário. Agora, não o considero um poeta da mesma estatura que Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade ou João Cabral de Melo Neto.
Manuel Bandeira diz de Machado de Assis, que se não considerado era um grande poeta, deixou-nos cerca de dez poemas importantes, que merecem ser lembrados - coisa de grande poeta. E você diz que Manuel Bandeira deixou-nos trinta... Oras, João Cabral deve ser o mais importante poeta que tivemos, mas soube aproveitar a lição de Manuel Bandeira no criar imagens com as coisas. Bandeira não foi só o inho, há muito ão a se considerar.
ResponderExcluirAbraços.
Caro, sem dúvida, Bandeira trouxe informação nova para a poesia brasileira, como o uso do verso livre, maior objetividade na construção de imagens, mas, na minha opinião, ele não deixou uma obra com um número apreciável de poemas; e não conheço, em sua obra, um poema comparável à Máquina do Mundo ou à Psicologia da Composição. Acho um bom poeta, mas não um grande poeta. Acho sua influência excessiva no meio universitário, e até pouco salutar aos jovens poetas que o imitam (mal). Abraço,
ResponderExcluirCD
Claudio, concordo sobre Bandeira, embora também me recorde de uns 10 poemas dele de que eu gosto bastante.
ResponderExcluirSobre Drummond, João Cabral e Murilo: acho que são mesmo os três maiores aqui, mas ainda sinto falta de ver mais nas bibliotecas os livros deste último. Acho que, em relação ao que estudamos de Drummond e João Cabral, as obras de Murilo ficam meio que de lado. Também, não por menos: a poesia completa e prosa dele, que eu estava querendo comprar, está na faixa de R$ 350,00... Não sei por que acabei desistindo! Enfim... Na minha opinião leitora, e não de entendedora, acho que Murilo Mendes poderia ser mais disseminado, lido e estudado.
Andresa, o problema é que a universidade brasileira criou um cânone que endeusa Bandeira e Drummond e coloca em segundo plano autores essenciais como Oswald de Andrade, Raul Bopp, Murilo Mendes e João Cabral (para não falar da Poesia Concreta, ainda não assimilada após 50 anos...). O Murilo, em especial, durante décadas, esteve ausente do mercado editorial brasileiro (circulava aqui apenas uma pequena antologia, de pouco mais de cem páginas); de uns dez anos para cá, começaram a editar uns dois ou três títulos dele, incluindo as Obras Completas, a um preço impeditivo. Isto é um absurdo, pois é um poeta central do Modernismo brasileiro, e a meu ver muito, muito, muito mais instigante do que Manuel Bandeira! Tempo Espanhol, Siciliana e Convergência, em particular, são livros de Murilo que mereciam edição independente das Obras Completas, para facilitar o acesso aos leitores... beso grande do
ResponderExcluirClaudio
Oi, Claudio, eu também só consegui nas bibliotecas daqui (Passo Fundo, a Capital Nacional da Literatura, huashuashuahs) uma antologia do Murilo. Não lembro onde li um ensaio em que o autor comentava haver uma certa dificuldade em se reunir os textos do Murilo (não tanto a poesia quanto os ensaios e outros textos em prosa), porque ele teria publicado muitos de forma esparsa na imprensa. Raul Bopp, bem lembrado, e tbm acho Mario Faustino um grande poeta esquecido.
ResponderExcluirEntão, é isso... Esses caras acabam injustamente ficando de lado.
Grande beijo,
Marceli