esta é a maneira de sermos brutais,
com a aspereza
de quem caminha
pelas ruas,
mascando lascas.
não preciso dar explicações
com palavras de madeira,
porque sou impuro
e espontâneo
como a fera.
esta é minha sombra magra, confesso,
estes, os meus passos desordenados.
nenhuma estrela para definir o dramatismo da noite
ao longo da jornada,
nem os ramos
de uma árvore inclinada.
quem considere imprecisa a descrição,
que escreva o seu próprio
rascunho,
com a fúria
violeta
do escaravelho.
sem contar nove vezes
menos um eco,
sigo minha jornada bípede,
de energúmeno.
nada aqui faz sentido para os meus lábios
vociferantes;
e como não venero
deuses de esterco,
nem as clausuras
cíclicas da história,
sigo andando
com minhas omoplatas,
minhas axilas,
meu caralho,
minha testa
desenhada
com símbolos alquímicos,
e um poema
escrito para ninguém
nas linhas torcidas
de meus pulsos.
(Fragmento do poema longo Letra Negra, de Claudio Daniel, que será publicado em breve pelo selo Arqueria.)
terça-feira, 8 de setembro de 2009
LETRA NEGRA (fragmento)
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Este poema (Letra Negra), que já tive a oportunidade de ler na íntegra é, provavelmente, o mais contundente de todos os poemas que li nos últimos anos. Obter esse grau de contundência sem apelar ao excesso de palavrões e ainda oferecer imagens formidáveis como "a fúria violeta do escaravelho" é tarefa para poucos. Não é um poema fácil nem explícito, mas é de uma riquesa raramente pareada.
ResponderExcluirAvisa quando sair na Arqueria, Claudio.
Caro Chico, agradeço por seu comentário. Escrevi esse poema em pouco mais de uma semana; apesar disso, considero o melhor poema que já escrevi. Com certeza, é o mais sincero. Além da experiência de linguagem (que incorpora recursos como o labirinto de versos), é um documento da minha "temporada no inferno". Avisarei quando estiver publicado. O abraço do
ResponderExcluirClaudio