quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

NOVOS POETAS BRASILEIROS (XXVII)

CAVALO DO CAOS

este que desfia tais demências

é meu hóspede, um demônio perdulário

ou serei eu, vapor de virulência

seu hóspede inconcluso

argamassa de medo amando morsas

gritaria gozando em sóis-fracassos

numa esquina, soberbo multiplica

espasmo outrora entrave e correnteza

subterrânea seringa que me singra

e sorve naufrágios frutificando fratricídios


APRISCO DE TARAS

1

canção de gume engastado

na guelra das galáxias

brinca de abrir brechas

no corpo da manhã


2

arquipélago pulsante perambula pelo poeta

mútua marcha de morangos


AS FENDAS DO MURO

Seus cabelos são uma matilha de casarões entre os ventos de meus dedos

Um lago fita infâncias nos seus lábios

Todas as janelas foragidas

Vejo um tango de icebergs nos carrilhões dos seus olhos

Aí certamente adormecem os nômades do basalto

Aí saltam girassóis de cachecol chamejante

Um martírio de morangos em suas orelhas

Os pedestres gritam greves azuis pelos seus poros

Uma lâmina estende mesquitas de néon pela explosão da avenida

Persiste um planeta de puro amor

Nos gestos de seu colar ancestral

Na máscara prismática do imprevisto

Na pele incandescente, na surdez das planícies

Este dia desliza pelo clamor sem raízes

Seu rosto é um pomar de tigres

Duas fontes de mãos dadas descem a calçada

Crivando as rotas com ritmo de rinoceronte

Há um jardim que afirma no fim de cada teu gesto

Que o ferrolho do infinito

Outorga-nos horóscopos

De puro orvalho


REFÉM DO ORVALHO

réstea de sol que lambe a mala
ABARROTADA.

vigor é ventania de vícios na volta.
espirais de desejo, evocações,
meus livros;
uns passos pelo pólen dos lapsos.

este peso no peito
é sabor de se despojar,
deixar pedaços nas pensões do tempo,
se sentir crivado de acréscimo
como relva
que se rumina em rapsódia

Fabrício Clemente é poeta e publicou na Zunái.

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