sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

NOVOS POETAS BRASILEIROS (XVIII)

SONHO COM ANTONIN ARTAUD


Antonin Artaud visitou meus sonhos

pedindo que eu fosse vê-lo na prisão

Eu o temia que se o soltassem,

ele sairia mais louco...

eu o temia que num impulso

ele mataria a primeira pessoa que visse numa encruzilhada...

Sabia que ele estava morrendo...

Sua face terrivelmente marcada por verrugas

tremia arrastada por um maldito pesadelo da sociedade.

Amputaram seu cérebro como também fizeram com outros loucos visionários.



Antonin Artaud,

você esteve em todos os lugares do meu sonho.

No fundo, não estava em lugar algum.

Eu o amava como a um irmão

Eu o acariciava.

Você se despia e exibia toda a sua pele petrificada

estigmatizada...

E mais eu o amava, como nunca havia amado ninguém antes.

Sua face sarcástica

demonstrava um desprezo total pela Dor.

Havia um brilho, uma beleza que sua alma inocente

revelava e fazia surgir de um fundo tenebroso e impuro.



Sei que sua alma de águia negra sobrevoou os cinqüentas eletrochoques

e que nunca mais voltará à esta terra desumana

onde ainda passeiam os homens de mediocridade vergonhosa...

sei que sua asas de águia negra decolam do arranha-céu

levando consigo meu espírito...



Ó Antonin Artaud,

Seu espectro azul me persegue

As suas incuráveis chagas desabrocham as rosas do inverno...

Chiu Yi Chih, poeta, formado em Letras Clássicas (grego) pela USP.

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