terça-feira, 11 de janeiro de 2011

POEMAS DE SÉRGIO MEDEIROS

O sexto

O sexto retira fitas adesivas de caixas empilhadas na calçada, abertas

Como se arrancasse a pele de animais mortos

Uma moça caminha como cega, mordendo um copo de plástico
Pequena tromba branca

O que quer que seja zumbe


O vigésimo terceiro

Em pé várias piscinas secas
Nunca enterradas num jardim
Os degraus estão no alto
São como grandes bonecos azuis
Levaram socos na barriga

Como uma semente brilhante numa vagem longa
Vagem aberta e seca
O vigésimo terceiro se refestela na piscina vazia em pé

O octagésimo quarto

Rã gigantesca ao sol, a terra esverdeada avança na água

O octogésimo quarto desce branco na praia
Como um avião de papel, as duas longas asas dele lançadas para trás.


A octagésima quinta

A octagésima quinta segura um velho copo rosa de iogurte.


O octagésimo sétimo e vários outros

Um urubu desequilibrado passa por cima de todo o mundo

E deixa o octagésimo sétimo aturdido
Ele bate numa caixa d’água
Enquanto o urubu se firma nas alturas

(Poemas do livro Figurantes, de Sérgio Medeiros. São Paulo: Iluminuras, 2011)

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