quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O POETA PODÓLATRA

Do lado de dentro das Paredes do Crânio
— Glauco Mattoso

Até
a última carícia
do prazer atípico, longe
dos seios estéreis —
plumas ou punhais, não
músculos enrijecidos
de basalto, suor de metal
libidinoso — assim os jaguares
mastigam iguanas de poliéster
sob o sol. Porém, a lenta
desaparição do olhar
(estranha metamorfose)
faz o tempo esférico
ser menos do que o espaço
indefinido pelo tato
— diálogo mudo
entre as mãos e o vazio.
(Fica o consolo das narinas,
o odor — para ele —
tão sweet love, sweet honey
de pés fortes, grandes e sujos
e a voz das palavras, o mar
interminável das vogais.)

1999

(Do livro A Sombra do Leopardo)

Um comentário:

  1. Celso Vegro28.1.11

    Prezado Prof. Claudio Daniel
    O poema é verdadeiramente vertiginoso.
    A cena dos jaguares a mastigar iguanas impressiona.
    Abçs

    ResponderExcluir