terça-feira, 21 de dezembro de 2010

FIO, FENDA, FALÉSIA

eu sou
(na medida
do meu silencio)
e nada me agarra
assim com força
eu sou efêmera
fêmea de pleno ar
profusão de escape
e passagem
eu vou ali e
já não sou mais
estou, onde pensam
me ver: sumi-
douros pr'além mar
— desculpe,
já não estou
eu sinto muito
(eu sinto demais)
meu corpo é quem
responde por mim
um esqueleto
vermelho
minha túnica
de estrelas
minha mão
um espelho
cravejado
de dentes
minha boca
em ferrugem
sem nenhuma
garantia
estilhaço
de pensamento
e breu, meu
coração acelerado

(Poema do livro fio, fenda, falésia, de Érica Zíngano, Roberta Ferraz e Renata Huber, publicado neste ano com o apoio do Programa de Ação Cultural da Secretaria de Estado da Cultura. Um belíssimo livro de poesia.)

2 comentários:

  1. Celso Vegro23.12.10

    Prezado prof. Claudio Daniel
    O poema é a vertigem das palavras e situações. O resultado é empolgante.

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