TERATOLOGIA
um rato
entrou
em mim
por isso
me digo
monstro
como imaginavam
os seiscentistas
(Ambroise Pare
sobretudo)
foi pela porta
de entrada
ou saída
de uma mulher
que me tornei
um
vão
por onde
pudesse
entrar o rato
INCENDIÁRIO I
a inconseqüência
mata
o medo
ateei o fogo
onde ele
não poderia estar
depois
o lancei
por cima do muro
do que sou
lancei o fogo
para além
do meu nome
a vizinhança
o mundo
incendiei
fogos de artifício
bombas
varreram o céu
e eu
de tão tolo
extasisado
esqueci de sair
do meu quintal
HOSPITAL
deitado na cama
na penumbra
de um quarto tranqüilo
ao pé da janela
persianas fechadas
faço ultrassom
do lado de lá
da parede
quem o coitado
na sala de cirurgia?
um ruído estridente
quase insuportável
de serra elétrica
e o baque seco
repetido
de uma marreta
RISCO
palavras
são lagostas entocadas
perigosas
cortou-me uma
ontem
não rogo praga
não desisto
ao contrário –
insisto
tento agarrá-las
pela parte de trás
PASSAPORTE
amor é menos
ou mais
que esse inesperado
presente passagem
em forma de orquídea
para outro mundo
além da matéria viva
intertravada?
(Poemas do livro Caçambas.
São Paulo: ed. 34, 2015)
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