sábado, 2 de janeiro de 2016

FÓSFORO BRANCO













Para Emir Mourad

Fósforo branco ácido ilumina escombro escárnio nos céus do Líbano.
Talhos retalhos de torsos retorcidos
ossos negrume carcaças.
Corpos enfileirados peles requeimadas
de carne sucata
nos campos de refugiados
em Sabra e Chatila.
Esta é a hora do morticínio.
Farpas fiapos nacos de membros desmembrados
e o aroma escuro escuro da hora lenta lenta de um dia que nunca termina.
Nenhum Kaddish para os filhos da escrava Agar
nenhuma lágrima para Ismael.
Apenas o silêncio de talhos retalhos peles farpas fiapos
e o escuro escuro.
Esta é uma história
exilada da história,
que eu e você não devemos saber:
por isso cala o escombro cala o negrume cala a sucata do morticínio.
É preciso calar
a matraca dos jornais;
sim, é preciso fechar os livros, fechar para sempre os livros
e condenar os mortos à perene desmemória
(em algum sítio
mefistofáustico
de Tel Aviv,
que moveu a macabra máquina da morte,
a estrela de David
se converte
em nova suástica).
Porém, eu e você não nos calamos,
eu e você não iremos esquecer,
eu e você somos o cedro do Líbano, a oliveira da Palestina,
o pão fresco nas mesas da Síria.
Houve aqui uma página infame da história,
mas eu e você recusamos o silêncio,
recusamos o esquecimento,
recusamos o perdão.

2013

(Poema que será publicado no terceiro volume de meu livro Cadernos bestiais)

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