quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

CONFISSÕES INCONFESSÁVEIS



 
















Quando eu iniciei a carreira literária, no início da década de 1980, costumava visitar alguns poetas, críticos literários, artistas e intelectuais que eu respeitava, para conversar. Queria apresentar o meu trabalho, trocar experiências, saber mais sobre as pesquisas que eles realizavam na poesia e em outras artes e ramos do conhecimento. Eu era jovem e ainda imaturo. Fui bem recebido por Mário Schenberg, José Celso Martinez Corrêa, Jorge Schwartz, para citar poucos nomes, e troquei cartas (na época não havia e-mail) com Augusto de Campos e José Paulo Paes. Com alguma frequência, ouvi a pergunta: "Você é filho de quem?". Confesso que na época fiquei surpreso com a questão, não entendi a sua relevância, mas respondia: "Meu pai se chama Orlando, e minha mãe, Lázara". Eles ouviam a resposta com curiosíssimas expressões faciais. Muitos anos depois, ao folhear uma revista literária -- cujos editores eram, todos eles, filhos de ministros da área econômica e grandes empresários -- entendi, finalmente, a pergunta. Poetas iniciantes "deveriam" ser filhos de importantes artistas plásticos, homens de negócios, atores renomados, professores da USP, críticos importantes, enfim, "gente de bem". Eu era a ovelha negra -- aliás, vermelha -- no rebanho. Hoje, sempre que posso, digo com orgulho: sou filho de Orlando, um técnico eletrônico com segundo grau incompleto, que trabalhou a vida toda em fábricas de caldeiras e de equipamentos eletrônicos, e de Lázara, uma secretária das Indústrias Reunidas F. Matarazzo. Foi com eles que adquiri o gosto pela leitura. Tudo o que consegui na vida literária, em mais de 30 anos de carreira, conquistei por mim mesmo.

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