MANHÃ
Um fórceps.
Do escuro para
dentro. Da luz
parcial. Aos solavancos.
Numa cratera.
Sem tamponamento.
Entre moscas. Tapas.
Pelo meio do maciço
contrativo. Refilado.
No coração da bomba.
Da propriedade dos meios de.
Com tentáculos.
Glaciares.
MÃO DUPLA
horizonte-abismo
daqui nada é distinto
nem se emenda
daqui tudo é miúdo
não se tem a ideia de muito
nenhuma trilha ou asa
ou pausa
acordar já parece grande
o bastante
no peito uma pedra crescendo para
si
há certos animais que
sangram mais
na hora da agonia da alegria
mãos que antes são
garras que ainda
são facas
cédulas xifópagas
páginas diárias de despedaçar
luas e luas sem luz
aqui nesta paragem ou pane
para cada célula
que dana
então
de onde
abismo-horizonte
APARIÇÃO
Nenhum rastro ou luz,
vento sem assento,
não coração, legião.
Nos ombros, tudo (menos
a loucura).
E a lição absurda das entranhas.
Então; a visão.
Eu, um holocausto vivo.
SIM
deste único lugar um
lugar algum
aqui de dentro
da pós-morte
o tempo depois do tempo
este além sem suplemento
o adiante redundante
ENCANTAMENTO
Nem teus passos.
Nem teu peso.
Ou o hálito
como novelo. Ou
a pele feito correnteza.
E um roçar de braços.
Com a prumada do peito.
E já o rosto inteiro.
Não. Nenhuma palavra.
QUEM IMAGINARIA
um deserto sem desertos
* * *
Um relâmpago.
Escuro.
Um homem.
(Poemas do livro Ao abrigo. Belo Horizonte: Scriptum, 2015.)
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