quarta-feira, 12 de agosto de 2015

DOIS POEMAS DE JÚLIO CASTAÑON GUIMARÃES



ÀS VOLTAS

1.

por dentro um deserto
se poderia pensar
que com o tempo
para fora se alastrasse

(tenaz das imagens
sons em entrechoque
insinuações e recuos
às voltas com a rarefação)

e se movimento que não há
acabasse por operar
dos ardis do horizonte
até mesmo sua linha


2.

com toda a aspereza
de uma operação
às voltas com o que
sequer aventa um corpo

nem todo o peso
do mundo ou da falta
repovoaria regiões
(ora talvez sem

impossíveis relatos)
entre devolutas e infensas
ante o meio-dia
de um raciocínio e corrosões


DOS ESTUDOS DE OBJETOS E VER

1.

tão brutal a matéria
ao excurso do olhar
que a impossibilidade
de qualquer imagem

pois o adensamento
(cores e formas se desfazem)
que sobre o suporte
obstrui por acúmulo


2.

a expansão da contextura
na superfície que
(sequer hipótese de simulacro)
concreta se amalgama

ainda se acrescenta
na espessura com que
a crueza da matéria
reocupa o espaço


3.

nem é que pela medida
um espaço se define
antes o peso da intensidade
com que severa a cor

pode impor-se como massa
e ora grave e sobretons
se elabora um corpo
que ocupa seu espaço



4.

se os planos se distinguem
pela superposição de recortes
que irregulares compartilham
fragmentos uns dos outros

tal diretriz para medida
ou controle de uma área
avança pela imaginação
se arredores se desvãos


5.

a matéria como objeto
de dimensão do olhar
quando no espaço
não só uma ordenação

nem frágil descompasso
mas todo um percurso
linhas volumes cálculo
talvez resumo de paisagem


(Poemas do livro Práticas do extravio. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2003)

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