segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

POEMAS DE ANDRÉIA CARVALHO



xantofila

anjos terpenos flutuam sobre berços, com adagas circulares. suas cabeças acima do universo, gestantes. gatos macios, voam em triângulos pela geometria do chão. a mente levita, fóssil paraplégica, pela boca das torres fulminadas.

(vê como a obscuridade nos cai bem. e depois nos eleva.)

ela, papisa amarela, espera a delicadeza de um hexagrama. afia as unhas com os leques jugulares.

roda fortuna! ave-gira, o veludo de exúvias.

orientais, todos eles. quimeras abertas contra o corpo fechado da massa atmosférica.

orientai vós, o espaço. com a bússola perdida de magnólias.

os elementos são signos radioativos, no meio do dia. xanto, xanto, xanto é o senhor dos exércitos crisântemos. imperioso solar.

(vê como a obscuridade nos enfurece. e depois nos criva de sonhos.)


toque das ave-marias

(lendo a psique do fogo, todas as coisas devoradas pelas chamas serão alimento.)

prove este corpo de diamante

a criança de estrelas pelo campo de dedaleiras. sua inocência pisoteando o rosto verde de uma mãe. nutrindo o leite das seivas com o orvalho de uma caminhada ígnea. tudo que o fogo diz, com amor cortês. câimbra de lascas pelas espáduas de uma aldeia esquecida. zigoto de um império límpido nascido em campo de rebentações lácteas, nebulosas. soberanas de manhãs moleculares.

este cristal é solidário como uma casa de espíritos. e nada mais será preciso taquigrafar, pela terceira ordem. os olhos que leem o fogo descrevem a psique de uma fome infernal redentora. psíquica majestosa.

prove este corpo de carvão

o inquilino que cobre com pele de especiarias a echarpe das senhoras católicas, prostituídas de eternidade. mortificadas no ponto carnal onde se embalam os mortos e os delírios: estes gêmeos pictóricos na memória anágua das moças com peito de ave. as leoas venéreas esqueceram os anjos da guarda e sua ressonância embrutecida de tentáculos. seus dedos gigolôs apertam a oração como uma mercadoria milagrosa.

que bufassem como poemas. mas rezam em tom inaudível de vespas, para não arrebentar o tímpano dos santos ocos. e ainda as ouço, antracito. sob martelos e maçaricos. com a letra povoada de insetos.

para provar este corpo de diamante
para provar este corpo de carvão

(a salvação oscila feito o pêndulo na hora do angelus.)

prove este bendito fruto

o grande colisor

abro o sol e fecho o corpo, com a noite retida nas têmporas. forjo milhões de retratos claros, para meu vestido de espelhos pirotécnicos: disfarce da noite véspera onde enterrei uma alma. com cicuta, com astúcia, com granizo. na carótida de chagall. o riso demolidor dos trovões no fogo dos dedos. misturando fusos horários, fusos cósmicos. na polifonia dos quadros. mais um instantâneo na galeria com que me adorno. os passantes partem-se em reflexos dourados quando uso trajes brancos. são atraídos pela luminosidade. quem deles retratarei desta vez? é da fosforescência dos homens a minha coleção. vitrine da memória.

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