quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

CULTURA NÃO É A PRIVATIZAÇÃO DO ESTADO



O que acontece com o mercado editorial brasileiro é algo que há muito tempo vem sendo denunciado pelo Ademir Assunção: existe um lobby das grandes editoras que exerce influência não apenas nos cadernos de "cultura" (?) da imprensa diária, mas também nos órgãos governamentais responsáveis pela compra de livros didáticos, bolsas e concursos literários, escolha de autores para participação em feiras internacionais e as políticas públicas para o livro, a leitura e a literatura. Um lobby poderosíssimo. Infelizmente, os poetas e escritores brasileiros não têm o mesmo nível de organização que os editores para a defesa de seus interesses.

É claro que a literatura e a poesia de qualidade encontram outros espaços de veiculação -- nos blogues, sites, revistas e instituições culturais como a Casa das Rosas e o Centro Cultural São Paulo. Porém, não podemos esquecer que a literatura "oficial", de mercado, é sustentada, em boa parte, por DINHEIRO PÚBLICO -- como os concursos da Petrobras e da Fundação Biblioteca Nacional. Logo, trata-se da PRIVATIZAÇÃO DO ESTADO, em benefício das grandes empresas editoriais, que visam o lucro, não a cultura.

Sim: há coisas positivas acontecendo, como o projeto do vereador Jamil Murad, do Partido Comunista do Brasil, de fomento à leitura e à criação literária; como ele não foi reeleito, o projeto foi engavetado, infelizmente. A Cida Pedrosa, que foi candidata a vereadora em Recife, também tem propostas interessantes de políticas públicas, que valem a pena ser discutidas. Porém, estas são iniciativas locais, seria interessante haver um projeto nacional de incentivo à leitura e à criação literária, desenhado a quatro mãos pelo poder público e os escritores, independente das grandes editoras.

Um comentário:

  1. Comentário enviado pela Maria Alzira Brum: "Como eu já disse várias vezes em diferentes momentos, são várias questões interligadas. A primeira é uma condição geral, que faz com que as chamadas democracias sejam, em grande medida, governadas pelos mercados. Neste contexto os bens comuns, como a literatura, são considerados como "produtos" que, uma vez processados e embalados por empresas privadas, são vendidos nos mercados interno e externo. A segunda é que a literatura se confunde com o que eu chamo de "corporação literária", que engloba a indústria do livro, agentes, imprensa, boa parte da crítica e os autores, entendidos como parte da "cadeia produtiva do livro". Nesta linha de entendimento, o papel do Estado é apoiar o "produto nacional". Como conseqüência, as políticas públicas visam incentivar e apoiar a "literatura nacional", o que se confunde com o incentivo e apoio à indústria do livro. Desta maneira fundos públicos são usados para promover e financiar eventos, prêmios etc. em benefício desta indústria e de certos tipos de literatura. Outra questão associada é como atuamos diante disto. Entre outras coisas, se trata de rever os conceitos de literatura, de canon, de autoria como propriedade privada das ideias; de propor e experimentar (também) modelos diferentes que não "produção e consumo". E é importante que entendamos como se dá a "gestão da cultura" nas instituições públicas e busquemos intervir neste processo. Tem mais..."

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